Por fim, também a virtude e a santidade não se originam da reflexão, mas da profundeza íntima da vontade e de sua relação com o conhecimento. A explicitação disso pertence a outro lugar completamente diferente deste escrito. Aqui, porém, permito-me observar que os dogmas que se relacionam com o ético podem até ser os mesmos na faculdade de razão de nações inteiras, porém a conduta de cada indivíduo pode ser outra, e vice-versa. A conduta transcorre, como se diz, conforme o SENTIMENTO, isto é, não segundo conceitos, mas segundo o conteúdo ético. Os dogmas ocupam a razão ociosa; enquanto a conduta segue o seu caminho, em última instância, independentemente deles, a maioria das vezes não conforme máximas abstratas mas conforme máximas indizíveis, cuja expressão é a pessoa inteira mesma. Assim, por mais diferentes que sejam os dogmas religiosos dos povos, o bom feito é acompanhado, entre eles, de contentamento indizível, e o mau de um remorso sem fim: os primeiros não admitem zombaria alguma; dos últimos, padre algum pode nos absolver. Todavia, não se deve negar que, na observância de uma vida virtuosa, o emprego da razão é necessário, embora não seja a fonte da virtude, mas sua função é subordinada, ou seja, manter as decisões tomadas, providenciar máximas para resistência contra fraquezas do momento e para conservação da conduta. O mesmo a razão realiza, ao fim, na arte, onde ela também em nada contribui para o principal, porém apoia a execução, justamente porque o gênio não está sempre desperto e, não obstante, a obra deve ser consumada em todas as suas partes, tornando-se um todo.
Schopenhauer (MVR1:108) – conduta conforme o sentimento, não segundo conceitos
- Schopenhauer (MVR1:201-202) – motivos
- Schopenhauer (MVR1:28-29) – filosofia à mercê do mundo
- Schopenhauer (MVR1:30) – filosofia à serviço
- Schopenhauer (MVR1:380-381) – querer não pode ser ensinado
- Schopenhauer (MVR1:400-401) – a morte sempre evitada
- Schopenhauer (MVR1:404-405) – a dor essencial à vida
- Schopenhauer (MVR1:428-429) – injustiça
- Schopenhauer (MVR1:434-435) – justiça
- Schopenhauer (MVR1:530-531) – coisa-em-si – vontade – moral
- Schopenhauer (MVR1:68) – Estupidez, parvoíce, simploriedade e loucura