- Ricardo Leon Lopes
- Original
Ricardo Leon Lopes
“Ele a comia com os olhos”. Esta frase e muitos outros signos marcam bastante a ilusão comum ao realismo e ao idealismo (destaques nosso), segundo a qual conhecer, é comer. A filosofia francesa após 100 anos de academicismo, ainda se prende a essa ilusão. Nós todos lemos Brunschvicq, Lalande e Meyerson, nós todos acreditamos que o Espírito-Aranha atirava as coisas em sua teia, as cobria de uma baba branca e lentamente as deglutia, reduzindo-as à sua própria substância. O que é uma mesa, um rochedo, uma casa? Um certo conjunto de “conteúdos da consciência”, uma ordem desses conteúdos. O filósofo alimentador! Nada, portanto, parece mais evidente: a mesa não é o conteúdo atual de minha percepção, minha percepção não é o estado presente de minha consciência? Nutrição, assimilação. Assimilação, dizia Senhor Lalande, das coisas às ideias, das ideias entre elas e dos espíritos entre eles. As poderosas arestas do mundo são roídas por essas diligentes diastases (destaque nosso): assimilação, unificação, identificação. Em vão, os mais simples e os mais rudes entre nós procurariam neles alguma coisa sólida, alguma coisa, enfim, que não fosse o espírito; eles não encontrariam em toda a parte senão um mata-borrão mole e tão distinto: eles mesmos.