Safranski (HC:13-14) – ser-em-o-mundo

tradução

Heidegger não pretende expor as estruturas iniciais da consciência que determinam todos os processos de conhecimento. O conhecimento é, segundo Heidegger, uma determinada modificação de nosso ser-no-mundo-cotidiano. O conhecer – assim poderia ser formulada a essência de sua ontologia fundamental – não começa na vida real como conhecimento do conhecimento, mas nasce de trato com o mundo cotidiano e cuidadoso; um trato em que diferentes formas de ver ou “Sichten”: Vorsicht (ver prévio = cuidado, precaução), Umsicht (ver em torno – circunspecção, prudência), Hinsicht (dirigir ou fixar a vista = consideração, respeito), etc. O conhecimento científico é apenas uma forma altamente especializada de tal “Sichten”. O começo do conhecimento está inscrito no âmbito e nos afazeres da vida cotidiana. A marcha até os “fundamentos” conduz Heidegger ao famoso “sempre-já” (immer schon). “Sempre” que o Dasein ou ser-aí começa algo, tinha começado já. E começa com o seu ser-em-o-mundo, onde “sempre já” nos encontramos. O inicial é este ser-em-o-mundo. Para entender devidamente o significado deste elemento inicial, não há que começar nem pelo “objeto” – o mundo como tal, os objetos, a natureza, etc. -, nem pelo “sujeito” entendido como sujeito de conhecimento. A ontologia fundamental deve evitar incorrer na sempre tão fácil separação sujeito e objeto e na escolha de um ponto de partida “subjetivo” ou “objetivo”. A análise do elementar e prévio ser-em, de nosso encontrar-nos-em, força Heidegger a fazer estranhas reviravoltas terminológicas. São suas famosas e temidas palavras compostas ligadas por hífens, autênticos monstros lexicais criados para designar estruturas impossíveis de decompor antes da separação entre sujeito e objeto. Alguns exemplos: “ser-em-o-mundo” (In-der-Welt-Sein) significa que o ser-aí não se confronta ao mundo, mas está “sempre já” nele. “ser com outros” (Mitsein mit Anderen) significa que ser-aí se encontra sempre já com outros em situações comuns. “Anteceder-a-si-mismo” (Sich-vorweg-sein) significa que o ser-aí olha do ponto de vista do agora, não ocasionalmente, mas continuamente e com previsão, para o futuro. Em Heidegger, o ser-aí é como uma colônia de algas, não importa onde se a agarre: sempre a extrai inteira.

Joaquín Chamorro

[Excerto de SAFRANSKI, Rüdiger. Heidegger y el comenzar. Madrid: Círculo de Bellas Artes, 2006, p. ]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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