Por mais alheios que os pré-socráticos possam ter sido à diferença ontológica, como o próprio Heidegger a tematiza, eles tinham um profundo senso do processo-do-Ser, pois concebiam o Ser como φύσις. O que quer que seja que surja espontaneamente, ou que se abra e se desdobre, e que, tendo se desdobrado, apareça em uma auto-manifestação permanente — isso é φύσις. Não é simplesmente o que chamamos de “natureza”, que é um ser como os outros, ou seja, apenas uma forma de surgimento. Ao invés, abrange todas as formas e tipos de entes: céu e terra, deuses e homens. Por causa de φύσις, os entes surgem e se destacam como sendo o que são, ou seja, tornam-se constantes e observáveis, capazes de serem encontrados. Φύσις é o poder-que-permanece-emergente. De onde emerge? Da ocultação. Uma pesquisa filológica recente encontra uma relação entre o radical φυ- e o φα- de φαίνεσθαι, sugerindo que φύσις é um emergir-em-luz, um brilhar-diante, um aparecer. Portanto, por causa de φύσις, ά-λήθεια vem a acontecer (GA40:EM:11-12).
(RICHARDSON, William J. H. Heidegger. Through Phenomenology to Thought. New York: Fordham University Press, 2003)