Ralkowski (2009:64-66) – alegoria da caverna (reino das sombras)

destaque

Heidegger divide a alegoria (da caverna) em quatro fases: (i) o reino das sombras, (ii) o reino do fogo, (iii) o reino da luz, e (iv) o regresso às sombras. O que mais importa na alegoria, insiste ele, não são as fases em si mas as transições entre elas, que nos mostram como o homem chega a ter um mundo e a existir ontologicamente, isto é, como um ente para quem o seu ser é uma questão, ao mesmo tempo que representa o processo em virtude do qual a experiência que o homem tem de si próprio e do seu mundo é fundamentalmente transformada (PDT 167-8). Heidegger pensa que a alegoria como um todo “dá precisamente a história em que o homem chega a si próprio como um ente em meio a entes”, ilustrando a essência do homem, que é Existenz (Ek-sistenz), a ser “posta na verdade” (ET 55), “entregue aos entes na sua totalidade … não fechada em si mesma como as plantas, nem restrita como os animais … nem simplesmente ocorrendo como uma pedra” (ET 56).

Este é mesmo o caso na fase inicial da alegoria, que Heidegger considera ser uma ilustração do Dasein no seu quotidiano, no seu ser pré-teórico — ao lado do mundo das suas preocupações, onde se sente em casa (PDT 164). Nesta fase, os prisioneiros medem o “real” e o “verdadeiro” a partir do seu ambiente imediato. “O que os rodeia e os preocupa é, para eles, ‘o real’, ou seja, aquilo que é” (PDT 164). Em certo aspecto, os prisioneiros não estão errados. Estão em contato com o não encoberto (unhidden). Embora as sombras projetadas na parede da caverna não sejam tão significativas como as realidades exteriores, elas são, no entanto, como Platão as descreve, to alethes, o não encoberto. Heidegger considera que este fato é significativo porque mostra que, mesmo na caverna, o homem se comporta perante o não encoberto (ET 20). No entanto, esta não é a história completa. Os prisioneiros são mantidos em cativeiro pelas sombras porque não as veem como sombras, ou seja, como os vestígios mais evidentes do que realmente são. “Os prisioneiros veem de fato as sombras, mas não como sombras de alguma coisa” (ET 20).

original

[RALKOWSKI, Mark. Heidegger’s platonism. London ; New York: Continuum, 2009]

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress