(Ricoeur1996)
O segundo problema, a questão do preenchimento (Erfüllung), está ligado ao primeiro e representa o teste crucial para uma filosofia que coloca a intencionalidade em seu centro. Se a intencionalidade supera a mera divisão entre sujeito e objeto, deve ser absolutamente demonstrado como meu ato intencional pode ser preenchido pela doação de um objeto, de modo que eu, como consciência, não precise me despojar de meus poderes conscientes para descobrir o mundo (realismo ingênuo), e que o mundo não seja meramente o que aparece no palco da minha consciência (idealismo ingênuo). Esse problema do preenchimento desafia a fenomenologia a fornecer uma descrição do que é, independentemente de qualquer preocupação ou esforço prático. É possível que nossos atos intencionais alcancem um preenchimento sem serem capturados em uma rede de referências onde esses atos são relevantes de acordo com os objetivos que perseguem? Mais uma vez, a resposta de Heidegger foi negativa, e ele, consequentemente, engajou a fenomenologia em uma “analítica da existência do Dasein”, que é caracterizada como “cuidado”: o Dasein está primordialmente “preocupado” com coisas que estão à mão.