A palavra para dizer a palavra não se deixa encontrar em nenhum lugar em que o destino dá aos entes o presente da linguagem nomeadora e inaugural, essa que nomeia que o ente é e como o ente brilha e brota. A palavra para a palavra, um tesouro na verdade, nunca foi encontrado na terra do poeta; mas e na terra do pensamento? Quando o pensamento procura pensar a palavra poética, mostra-se que a palavra, o dizer, não tem ser. Nossos hábitos representacionais reagem todavia contra esse entendimento. Todo mundo vê e escuta palavras, tanto na escrita como na língua falada. As palavras são. As palavras podem ser como as coisas são, a saber, perceptíveis para os sentidos. Para dar um exemplo grosseiro, basta folhearmos um dicionário. Ele está cheio de coisas impressas. Sem dúvida. Cheio de palavras e ao mesmo tempo sem nenhuma palavra. É que o dicionário não é capaz de apreender e abrigar a palavra pela qual as palavras vêm à palavra. Aonde pertence a palavra, aonde pertence o dizer?
A experiência poética com a palavra nos dá um aceno importante e significativo. A palavra – nenhuma coisa, nenhum ente; em contrapartida, as coisas se tornam compreensivas quando para elas existe uma palavra disponível. Então a coisa “é”. Mas o que se passa com esse “é”? A coisa é. Será que o “é” é ele mesmo coisa, sobreposta sobre outra, colocada sobre outra como um capuz? Nunca encontramos o “é” como uma coisa numa coisa. Com o “é” acontece o mesmo que com a palavra. Como a palavra também o “é” não pertence às coisas existentes.
Eis que despertamos da sonolência das opiniões apressadas e visualizamos algo inteiramente outro.
No que a experiência poética com a linguagem diz da palavra está em jogo a relação entre o “é” que nada é e a palavra que se acha no mesmo caso, ou seja, que não é um ente.
Nem ao “é” e nem à “palavra” convém a natureza de coisa, o ser, e nem tampouco à relação entre o “é” e a palavra, cuja tarefa consiste em conferir a cada vez um “é”. Por outro lado, nem o “é, nem a palavra e nem o dizer estão condenados ao vazio de um mero nada. O que mostra a experiência poética com a palavra quando o pensamento a pensa? Ela acena para o que é digno de se pensar, para aquilo que de há muito, mesmo que de modo velado, motiva o pensamento. Ela acena para o que se dá, mas não “é”. Aquilo que se dá pertence também a palavra, talvez não apenas também, mas antes de mais nada e isso de tal maneira que na palavra, na sua essência, abriga-se o que se dá. Pensando de maneira mais precisa, nunca se deve dizer da palavra que ela é. Deve-se dizer que ela se dá – não no sentido de que as palavras “estão” dadas, mas de que a palavra ela mesma dá e concede. A palavra: a doadora. Mas o que dá a palavra? Segundo a experiência poética e de acordo com a tradição mais antiga do pensamento, a palavra dá: o ser. Assim pensando esse “se” do dá-se, temos de buscar a palavra como a doadora e nunca como um dado. [GA12MSC:150-151]