Ortega y Gasset (MT:C12) – XII O TECNICISMO MODERNO…

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O tecnicismo da técnica moderna se diferencia fundamentalmente daquele que inspirou todas as anteriores. Surge nas mesmas datas que a ciência física e é filho da mesma matriz histórica. Vimos como até aqui o técnico, obcecado pelo resultado final que é o apetecido, não se sente livre diante dele e busca meios que de um golpe e em totalidade consiga produzi-lo. O meio, eu disse, imita a sua finalidade.

No século XVI chega à maturidade um novo modo de funcionar as cabeças que se manifesta ao mesmo tempo na técnica e na mais pura teoria. Mais ainda, é característico desta nova maneira de pensar que não possa dizer-se onde começa, se na solução de problemas práticos ou na construção de meras ideias. Vinci foi em ambas as ordens o precursor. É homem de oficina, não somente e nem sequer principalmente de oficina de pintura, mas de oficina mecânica . Passa a vida inventando “artifícios”.

Na carta onde solicita emprego de Ludovico Moro adianta uma longa lista de invenções béliças e hidráulicas. O mesmo que na época helenística os grandes poliorcetas deram ensejo aos grandes avanços da mecânica que terminam prodigiosamente no prodigioso Arquimedes, nestas guerras de fins do século XV e começos do XVI se prepara o crescimento decisivo do novo tecnicismo . Nota bene: umas e outras guerras eram guerras falsas, quero dizer, não eram guerras de povos, guerras férvidas, pelejas de sentimentos inimigos, mas guerras de militares contra militares, guerras frígidas, guerras de cabeça e punho, não de víscera cordial. Por isso, guerras. . . técnicas.

Isso que ocorria em 1540 era a moda no mundo das “mecânicas”. Esta palavra, registre-se, não significa então a ciência que hoje absorveu esse termo que ainda não existia; significa as máquinas e a arte delas. Tal é o sentido que tem ainda em 1600 para Galilei, pai da ciência mecânica. Toda gente quer ter aparelhos, grandes e pequenos, úteis ou simplesmente divertidos . Nosso enorme Carlos, o V, o de Mühlberg, quando se retira para Yuste, na mais ilustre maré-baixa que registra a história, leva consigo em sua formidável ressaca para o nada somente estes dois elementos do mundo que abandona: relógios e Juanelo Turriano. Este era um flamengo, verdadeiro mago dos inventos mecânicos, aquele que constrói tanto o artifício para subir águas a Toledo — do qual ainda restam traços — quanto um pássaro semovente que voa com suas asas de metal pelo vasto espaço da estância onde Carlos, ausente da vida, repousa.

Importa muito sublinhar este fato de primeira ordem: que a maravilha máxima da mente humana, a ciência física, nasce na técnica. Galilei jovem não está na Universidade, mas nos arsenais de Veneza, entre gruas e cabrestantes. Ali se forma sua mente.

O novo tecnicismo; com efeito, procede exatamente como procederá a nuova scienza. Não vai, sem mais, da imagem do resultado que se quer obter à busca de meios que o consigam. Não. Detém-se diante do propósito e age sobre ele. Analisa-o. Isto é, decompõe o resultado total — que é o único primeiramente desejado — nos resultados parciais de que surge, no processo de sua gênese. Portanto, em suas “causas” ou fenômenos ingredientes.

Exatamente isto é o que fará em sua ciência Galilei, que foi ao mesmo tempo, como se sabe, um gigantesco “inventor”. O aristotélico não decompunha o fenômeno natural, já que para seu conjunto buscava-lhe uma causa também conjunta, à modorra que produz a infusão de amapolas uma virtus dormitiva. Galilei, quando vê mover-se um corpo, faz exatamente o contrário: pergunta-se de que movimentos elementares e, portanto, gerais, se compõe aquele movimento concreto. É isto o novo modo de operar com o intelecto: “análise da natureza”.

Tal é a união inicial — e de raiz — entre o novo tecnicismo e a ciência. União como se vê nada externa, mas de idêntico método intelectual. Isto dá à técnica moderna independência e plena segurança em si mesma. Não é uma inspiração como mágica nem puro acaso, mas “método”, caminho preestabelecido, firme, consciente de seus fundamentos.

Grande lição! Convém que o intelectual maneje as coisas, que esteja próximo delas; das coisas materiais se é físico, das coisas humanas se é historiador. Se os historiadores alemães do século XIX houvessem sido mais homens políticos, ou mesmo mais “homens de mundo”, talvez a história fosse hoje já uma ciência e junto a ela existisse uma técnica realmente eficaz para atuar sobre os grandes fenômenos coletivos, diante dos quais, seja dito com vergonha, o atual homem se encontra como o paleolítico diante do raio.

O chamado “espírito” é uma potência demasiado etérea que se perde no labirinto de si mesma, de suas próprias infinitas possibilidades. É demasiado fácil pensar! A mente em seu voo quase não encontra resistência. Por isso é tão importante para o intelectual palpar objetos materiais e aprender em seu trato com eles uma disciplina de contenção. Os corpos foram os mestres do espírito, como o centauro Quirão foi o mestre dos gregos. Sem as coisas que se veem e se tocam, o presunçoso “espírito” não seria mais que demência. O corpo é o agente policial e o pedagogo do espírito.

Daí a exemplaridade do pensamento físico diante de todos os demais usos intelectuais. A física, como notou Nicolai Hartmann, deve sua ímpar virtude em ser, até agora, a única ciência onde a verdade se estabelece mediante o acordo de duas instâncias independentes que não se deixam subornar uma pela outra. 0 puro pensar a priori da mecânica racional e o puro olhar as coisas com os olhos do rosto: análise e experimento.

Todos os criadores da nova ciência se deram conta de sua consubstancialidade com a técnica . Tanto Bacon como Galilei, Gilbert quanto Descartes, Huygens quanto Hook ou Newton.

Desde então para cá o desenvolvimento — em somente três séculos — foi fabuloso: tanto o da teoria quanto o da técnica. Veja o leitor, no livrinho de Alien Raymond, ¿Qué es la tecnocracia?, traduzido nas edições da “Revista de Occidente”, alguns dados sobre o que hoje pode fazer aquele técnico. Por exemplo:

“O motor humano, numa jornada de oito horas, é capaz de render trabalho, aproximadamente, na proporção de um décimo de cavalo. Hoje em dia possuímos máquinas que trabalham com 300 000 cavalos de potência, capazes de funcionar durante vinte e quatro horas do dia por muito tempo.

“A primeira máquina de conversão de energia distinta do mecanismo humano foi a tosca máquina de vapor atmosférico de Newcomen, em 1712.A primeira máquina dessa marca desenvolve 5,5 cavalos de força, calculada pela quantidade de água que eleva num tempo determinado. Esta máquina atingiu seu máximo tamanho em 1780, com gigantescos cilindros e 16 a 20 percurso de êmbolo por minuto. Tinha uma potência de 50 cavalos, ou seja, 500 vezes a do motor humano. Mas a eficiência da máquina Newcomen era um décimo da máquina humana e requeria 15,8 libras de carvão por cavalo. Tinha outros defeitos, tanto em energia como na parte mecânica, que impediram sua adoção geral.

“A introdução da turbina trouxe um novo tipo de conversão de energia. Enquanto as primeiras turbinas construídas possuíam menos de 700 cavalos e a primeira turbina que se instalou numa estação central era de 5.000 cavalos, as turbinas modernas chegam a atingir 300.000 cavalos, ou seja, 3.000.000 de vezes o rendimento de um ser humano em jornada de oito horas. Calculada sobre a base de vinte e quatro horas de funcionamento, a turbina tem nove milhões de vezes o rendimento do corpo humano.

“A primeira turbina montada numa estação central consumia 6,88 libras de carvão por quilowatt-hora em 1903.

“Houve uma queda no consumo de carvão de 6,88 libras para 0,84 libras num período de 30 anos, o que indica a variação do rendimento ao efetuar o trabalho humano por meio das máquinas.

“O rendimento máximo de civilização no antigo Egito nunca excedeu de 150.000 cavalos em jornada de oito horas, supondo-lhe 3.000.000 de habitantes. Grécia, Roma, os pequenos Estados e Impérios da Idade Média e as nações modernas tiveram o mesmo índice de rendimento até a época de James Watt. Mudanças cada vez mais rápidas ocorreram desde então. O progresso social, desconhecido até agora, avançou lentamente no princípio, depois deu uma corrida, tomou voo e avançou com a rapidez de um foguete. Série após série de desenvolvimentos técnicos varreram os processos industriais de cada década, desde 1800, para deixá-los reduzidos a métodos antiquados do passado.

“A primeira máquina, a de Newcomen, não sobreviveu a seu século. A segunda mudança na conversão de energia, a máquina de Watt, não sobreviveu um século para ser deslocada por uma nova máquina de maior rendimento. Dos 9.000.000 de vezes pelas quais multiplicamos a energia do corpo humano para obter as unidades modernas de energia mecânica atingidas, um aumento de 8.766.000 vezes ocorreu nos últimos vinte e cinco anos.

“Sobre diminuição de horas de trabalho humano desde 1840, notemos que, em aço, o grau de diminuição foi o inverso da quarta potência do tempo; em automóveis, ainda maicr; em produção de lingotes de ferro, uma hora de trabalho humano consegue hoje em dia o que seiscentas horas do mesmo trabalho há cem anos. Em agricultura, somente 1/3 000 de horas de trabalho humano por unidade de produto se necessitam comparadas com 1840. Na fabricação de lâmpadas incandescentes, uma hora de trabalho humano realiza tanto como nove mil horas do mesmo trabalho em 1914.

“O grau de diminuição em horas de trabalho humano por unidade de produção, tomadas em conjunto, é, pois, aproximadamente 1/3 000.

“Os fabricantes de tijolos, durante mais de cinco mil anos, jamais conseguiram, em média, mais de 450 tijolos por dia e por indivíduo, em jornada de mais de dez horas.

“Uma fábrica moderna de fabricação contínua de tijolos produzirá 400 000 por dia e por homem.”

Não respondo pela exatidão destas cifras. Os “tecnocratas” dos quais procedem são demagogos e, portanto, gente sem exatidão, pouco escrupulosa e apressada. Mas, aquele que tenha esse quadro numérico de caricatura e exagero, não faz senão pôr de manifesto um fundo verdadeiro e inquestionável — a quase ilimitação de possibilidades na técnica material contemporânea.

Mas a vida humana não é somente luta com a matéria, é também luta do homem com sua alma. Que quadro pode a Euramérica opor a esse como repertório de técnicos da alma? Não foi, nesta ordem, bem superior a Ásia profunda? Desde há anos sonho com um possível curso em que se mostrem frente a frente as técnicas do Ocidente e as técnicas da Ásia.

original

El tecnicismo de la técnica moderna se diferencia radicalmente del que ha inspirado todas las anteriores. Surge en las mismas fechas que la ciencia física y es hijo de la misma matriz histórica. Hemos visto cómo hasta aquí el técnico, obseso por el resultado final que es el apetecido, no se siente libre ante él y busca medios que de un golpe y en totalidad consiga producirlo. El medio, he dicho, imita a su finalidad.

En el siglo XVI llega a madurez una nueva manera de funcionar las cabezas que se manifiesta a la par en la técnica y en la más pura teoría. Más aún, es característico de esta nueva manera de pensar que no pueda decirse dónde empieza; si en la solución de problemas prácticos o en la construcción de meras ideas. Vinci fue en ambos órdenes el precursor. Es hombre de taller, no sólo ni siquiera principalmente de taller de pintura, sino de taller mecánico. Se pasa la vida inventando «artificios».

En la carta donde solicita empleo de Ludovico Moro, adelanta una larga lista de invenciones bélicas e hidráulicas. Lo mismo que en la época helenística los grandes poliorcetas dieron ocasión a los grandes avances de la mecánica que terminan prodigiosamente en el prodigioso Arquímedes, en estas guerras de fines del siglo XV y comienzos del XVI se prepara el crecimiento decisivo del nuevo tecnicismo. Nota bene: unas y otras guerras eran guerras falsas, quiero decir, no eran guerras de pueblos, guerras férvidas, peleas de sentimientos enemigos, sino guerras de militares contra militares, guerras frígidas, guerras de cabeza y puño, no de víscera cordial. Por lo mismo guerras… técnicas.

Ello es que hacia 1540 están de moda en el mundo las mecánicas. Esta palabra, conste, no significa entonces la ciencia que hoy ha absorbido ese término que aún no existía: significa las máquinas y el arte de ellas. Tal es el sentido que tiene todavía en 1600 para Galileo, padre de la ciencia mecánica. Todo el mundo quiere tener aparatos, grandes y chicos, útiles o simplemente divertidos. Nuestro enorme Carlos, el V, el de Mülhberg, cuando se retira a Yuste, en la más ilustre bajamar que registra la historia, se lleva en su formidable resaca hacia la nada sólo estos dos elementos del mundo que abandona: relojes y Juanelo Turriano. Éste era un flamenco, verdadero mago de los inventos mecánicos, el que construye lo mismo el artificio para subir aguas a Toledo —de que aún quedan restos— que un pájaro semoviente que vuela con sus alas de metal por el vasto vacío de la estancia donde Carlos, ausente de la vida, reposa.

Importa mucho subrayar este hecho de primer orden: que la maravilla máxima de la mente humana, la ciencia física, nace en la técnica. Galileo joven no está en la Universidad, sino en los arsenales de Venecia, entre grúas y cabrestantes. Allí se forma su mente.

El nuevo tecnicismo, en efecto, procede exactamente como va a proceder la nuova scienza. No va sin más de la imagen del resultado que se quiere obtener a la busca de medios que la logran. No. Se detiene ante el propósito y opera sobre él. Lo analiza. Es decir, descompone el resultado total —que es el único primeramente deseado— en los resultados parciales de que surge, en el proceso de su génesis. Por tanto, en sus «causas» o fenómenos ingredientes.

Exactamente esto es lo que va a hacer en su ciencia Galileo, que fue a la par, como es sabido, un gigantesco «inventor». El aristotélico no descomponía el fenómeno natural, sino que a su conjunto le buscaba una causa también conjunta, a la modorra que produce la infusión de amapolas una virtus dormitiva. Galileo cuando ve moverse un cuerpo hace todo lo contrario: se pregunta de qué movimientos elementales y, por tanto, generales, se compone aquel movimiento concreto. Esto es el nuevo modo de operar con el intelecto: «análisis de la naturaleza».

Tal es la unión inicial —y de raíz— entre el nuevo tecnicismo y la ciencia. Unión como se ve nada externa sino de idéntico método intelectual. Esto da a la técnica moderna independencia y plena seguridad en sí misma. No es una inspiración como mágica ni puro azar, sino «método», camino preestablecido, firme consciente de sus fundamentos.

¡Gran lección! Conviene que el intelectual maneje las cosas, que esté cerca de ellas; de las cosas materiales si es físico, de las cosas humanas si es historiador. Si los historiadores alemanes del siglo XIX hubiesen sido más hombres políticos, o siquiera más «hombres de mundo», acaso la historia fuese hoy ya una ciencia y junto a ella existiese una técnica realmente eficaz para actuar sobre los grandes fenómenos colectivos, ante los cuales, sea dicho con vergüenza, el actual hombre se encuentra como el paleolítico ante el rayo.

El llamado «espíritu» es una potencia demasiado etérea que se pierde en el laberinto de sí misma, de sus propias infinitas posibilidades. ¡Es demasiado fácil pensar! La mente en su vuelo apenas si encuentra resistencia. Por eso es tan importante para el intelectual palpar objetos materiales y aprender en su trato con ellos una disciplina de contención. Los cuerpos han sido los maestros del espíritu, como el centauro Quirón fue el maestro de los griegos. Sin las cosas que se ven y se tocan, el presuntuoso «espíritu» no sería más que demencia. El cuerpo es el gendarme y el pedagogo del espíritu.

De aquí la ejemplaridad del pensamiento físico frente a todos los demás usos intelectuales. La física, como ha notado Nicolai Hartmann, debe su sin par virtud a ser, hasta ahora, la única ciencia donde la verdad se establece mediante el acuerdo de dos instancias independientes que no se dejan sobornar la una por la otra. El puro pensar a priori de la mecánica racional y el puro mirar las cosas con los ojos de la cara: análisis y experimento.

Todos los creadores de la nueva ciencia se dieron cuenta de su consustancialidad con la técnica. Lo mismo Bacon que Galileo, Gilbert que Descartes, Huygens que Hooke o Newton.

De entonces acá el desarrollo —en sólo tres siglos— ha sido fabuloso: lo mismo el de la teoría que el de la técnica. Vea el lector en el librito de Allen Raymond, ¿Qué es la tecnocracia?, traducido en las ediciones de la Revista de Occidente, algunos datos sobre lo que hoy puede hacer aquel técnico. Por ejemplo:

«El motor humano, en una jornada de ocho horas, es capaz de rendir trabajo, aproximadamente, en la proporción de un décimo de caballo. Hoy día poseemos máquinas que trabajan con 300 000 caballos de potencia, capaces de funcionar durante veinticuatro horas del día por mucho tiempo.

»La primera máquina de conversión de energía distinta del mecanismo humano fue la tosca máquina de vapor atmosférico de Newcomen, en 1712. La primera máquina de esa marca desarrolla 5,5 caballos de fuerza, calculada por la cantidad de agua que eleva en un tiempo determinado. Esta máquina alcanzó su máximo tamaño hacia 1780, con gigantescos cilindros y 16 a 20 recorridos de émbolo por minuto. Tenía una potencia de 50 caballos, o sea, 500 veces la del motor humano. Pero la eficiencia de la máquina Newcomen era undécimo de la máquina humana y requería 15,8 libras de carbón por caballo. Tenía otros defectos, tanto en energía como en la parte mecánica, que impidieron su adopción general.

»La introducción de la turbina trajo un nuevo tipo de conversión de energía. Mientras Las primeras turbinas construidas poseían menos de 700 caballos y la primera turbina que se instaló en una estación central era de 5000 caballos, las turbinas modernas llegan a alcanzar 300 000 caballos, o sea, 3 000 000 de veces el rendimiento de un ser humano en jornada de ocho horas. Calculada sobre la base de veinticuatro horas de funcionamiento, la turbina tiene nueve millones de veces el rendimiento del cuerpo humano.

»La primera turbina montada en una estación central consumía 688 libras de carbón por kilovatio hora en 1903.

»Ha habido un descenso en consumo de carbón de 6,88 libras a 0,84 libras en un período de 30 años, lo que indica la variación del rendimiento al efectuar el trabajo humano por medio de las máquinas.

»El rendimiento máximo de civilización en el antiguo Egipto nunca excedió de 150 000 caballos en jornada de ocho horas, suponiéndole 3 000 000 de habitantes. Grecia, Roma, los pequeños Estados e Imperios de la Edad Media y las naciones modernas tuvieron el mismo índice de rendimiento hasta la época de Jaime Watt. Cambios cada vez más rápidos ocurrieron desde entonces. El progreso social, desconocido hasta ahora, avanzó lentamente al principio, después dio una carrera, tomó vuelo y avanzó con la rapidez de un cohete. Serie tras serie de desarrollos técnicos han barrido los procesos industriales de cada década, desde 1800, para dejarlos reducidos a métodos anticuados del pasado.

»La primera máquina, la de Newcomen, no sobrevivió a su siglo. El segundo cambio en la conversión de energía, la máquina de Watt, no sobrevivió un siglo para ser reemplazada por una nueva máquina de mayor rendimiento. De los 9 000 000 de veces por los que hemos multiplicado la energía de cuerpo humano para obtener las unidades modernas de energía mecánica alcanzadas, un aumento de 8 766 000 veces ha ocurrido en los últimos veinticinco años.

»Sobre disminución de horas de trabajo humano desde 1840, notemos que, en acero, el grado de disminución ha sido la inversa de la cuarta potencia del tiempo; en automóviles, aún mayor; en producción de lingotes de hierro, una hora de trabajo humano consigue hoy día lo que seiscientas horas del mismo trabajo hace cien años. En agricultura, sólo 1/3000 de horas de trabajo humano por unidad de producto se necesitan comparadas con 1840. En la fabricación de lámparas incandescentes, una hora de trabajo humano realiza tanto como nueve mil horas del mismo trabajo en 1914.

»El grado de disminución en horas de trabajo humano por unidad de producción, tomadas en conjunto, es, pues, aproximadamente 1/3000.

»Los fabricantes de ladrillos durante más de cinco mil años, nunca lograron por término medio más de 450 ladrillos por día y por individuo, en jornada de más de diez horas.

»Una fábrica moderna de fabricación continua de ladrillos producirá 400 000 ladrillos por día y por hombre».

No respondo de la exactitud de estas cifras. Los «tecnócratas» de quienes proceden, son demagogos y, por tanto, gente sin exactitud, poco escrupulosa y atropellada. Pero lo que tenga ese cuadro numérico de caricatura y exageración, no hace sino poner de manifiesto un fondo verdadero e incuestionable: la casi ilimitación de posibilidades en la técnica material contemporánea.

Pero la vida humana no es sólo lucha con la materia, sino también lucha del hombre con su alma. ¿Qué cuadro puede Euramérica oponer a ése como repertorio de técnicas del alma? ¿No ha sido, en este orden, muy superior el Asia profunda? Desde hace años sueño con un posible curso en que se muestren frente a frente las técnicas de Occidente y las técnicas del Asia.

JOSÉ ORTEGA Y GASSET. Filósofo y escritor español nacido en Madrid (España) el 9 de mayo de 1883 y fallecido en la misma ciudad el 18 de octubre de 1955.

Ortega nace en el seno de una familia de la alta burguesía ilustrada madrileña. Su padre, José Ortega y Munilla, también escritor, periodista y académico, se distinguió por la ayuda prestada a jóvenes que más adelante fueron grandes escritores, entre otros, Valle Inclán. Ortega cursa estudios en el Colegio de Miraflores de El Palo (Málaga), la Universidad de Deusto, y la Universidad Central de Madrid, donde se doctoró en Filosofía en 1902 con su tesis «Los terrores del año 1000». Ese mismo año comenzará a colaborar periódicamente con el diario «El Imparcial»; de hecho, este escribir en los periódicos principales de su tiempo será algo que Ortega hará a lo largo de toda su vida, con lo que su pensamiento se halla plasmado no sólo en libros; a este respecto, subráyese que en 1916 empezó a publicar «El Espectador», una serie de escritos aparecidos periódicamente hasta el año 1928, y cuyo conjunto de ocho volúmenes constituye una de sus más destacadas producciones.

Fueron determinantes para su formación los tres viajes que hizo a Alemania —universidades de Leipzig, Berlín y Marburgo— en 1905, 1907 y 1911, pues allí estudia el idealismo que será la base de su primer proyecto de regeneración ética y social de España. En 1908 es nombrado catedrático de Psicología, Lógica y Ética de la Escuela Superior de Magisterio de Madrid, y en 1910 catedrático de Metafísica de la Universidad Central de Madrid. En el desarrollo de su pensamiento, es especialmente decisivo el año de 1914, año de la Gran Guerra, que Ortega ve como una quiebra de los ideales ilustrados. Un año después, funda la revista «España», en 1917 el diario «El Sol», y en 1923 la «Revista de Occidente», abierta a todos los horizontes del pensamiento europeo y que, junto a su editorial aneja, también obra de Ortega, conforma una de las mejores contribuciones a la alta cultura española. Antes, en 1916, emprende su primer viaje a la Argentina, de gran importancia en su trayectoria profesional y para las relaciones culturales con Latinoamérica.

En sus escritos de «Vieja y Nueva Política», «Meditaciones del Quijote» y «Ensayo de Estética a manera de prólogo» ya había expuesto su programa de una modernidad latina alternativa. En 1921 publica en forma de libro su diagnóstico de la situación de España con el expresivo título de «España invertebrada». Y en 1923 ofrece el análisis de su época con «El tema de nuestro tiempo», consistente en la necesidad de superar el idealismo y volver a la vida, núcleo de su teoría de la razón vital. Ésta es fruto de la nueva sensibilidad que advierte en el siglo XX, ejemplificada en el arte nuevo como «La deshumanización del arte» (1925). Su ruptura con la Dictadura de Primo de Rivera tiene lugar en 1929 con ocasión de su famoso curso «¿Qué es filosofía?». En 1930 publica «La rebelión de las masas», que tiene una gran repercusión internacional. Al instaurarse el nuevo régimen político en España, en 1931, Ortega funda con Marañón y Pérez de Ayala la «Agrupación al Servicio de la República», habiendo sido antes elegido diputado a Cortes —aunque nunca se adscribió a partido alguno—. Al estallar la Guerra Civil española, tiene que exiliarse en 1936, pasando de París a Holanda, la Argentina, y, en 1943, finalmente a Lisboa. Regresará a España seis años después del final de la Guerra Civil, en 1945, donde permaneció en Madrid hasta su muerte descontando algún viaje esporádico al extranjero. En 1948, con su discípulo Julián Marías, funda en Madrid el «Instituto de Humanidades». Es la época de sus últimas aportaciones intelectuales, alguna de ellas publicadas póstumamente: «Velázquez», «Sobre la razón histórica», «Leibniz», «El Hombre y la Gente», «Epílogo»…

En sus artículos y ensayos trató temas muy variados y siempre incardinados en la actualidad de su época, tanto de filosofía y política como de arte y literatura. Su obra no constituye una doctrina sistematizada sino un programa abierto. No obstante, como denominador común de su pensamiento puede señalarse el perspectivismo —las distintas concepciones del mundo dependen del punto de vista y las circunstancias de los individuos— y la razón vital —un intento de superación de la razón pura y la razón práctica de idealistas y racionalistas—. Para Ortega, la verdad surge de la yuxtaposición de visiones parciales, en la que es fundamental el constante diálogo entre el hombre y la vida que se manifiesta a su alrededor, especialmente en el universo de las artes.