objeto do pensamento

“Objeto” significa, conforme a determinação dada, o caso em controvérsia, o controvertido, o que por excelência é o caso para o pensamento, que interessa ao pensamento? A controvérsia disto que é controvertido, porém, de modo algum, é procurada pelo pensamento, por assim dizer, por razões fúteis. Nossa palavra controvérsia (alemão arcaico Strit) significa precipuamente uma situação premente e não discórdia. O objeto do pensamento urge o pensamento, de tal maneira que o conduz, primeiro, a seu objeto e, a partir deste, a si mesmo.

Para Hegel o objeto do pensamento é: o pensamento enquanto tal. Para não interpretarmos mal, através de um enfoque psicológico e gnosiológico, esta delimitação do objeto, a saber, o pensamento enquanto tal, devemos acrescentar como esclarecimento: o pensamento enquanto tal – na plenitude desenvolvida do caráter de pensado do pensado. Somente a partir de Kant podemos entender o que aqui significa o caráter de pensado do pensado; a partir da essência do transcendental, que Hegel, entretanto, pensa como absoluto, isto quer dizer, para ele, especulativo. É isto que Hegel tem em mira quando diz, do pensamento do pensamento enquanto tal, que ele se desenvolve “puramente no elemento do pensamento” (Enciclopédia, Introdução, § 14). Dito numa expressão mais concisa, mas difícil de representar de maneira pertinente, isto quer dizer: O objeto do pensamento é para Hegel “o pensamento”. Porém, este desenvolvido até a suprema liberdade de seu ser é a “Ideia Absoluta”. Dela diz Hegel, perto do fim da Ciência da Lógica (Ed. Lasson, vol. II, 484): “Somente a Ideia Absoluta é ser, perene vida, verdade que se sabe a si mesma, e é toda a verdade”. Assim, pois, Hegel mesmo e expressamente dá ao objeto de seu pensamento aquele nome, que encima o objeto do pensamento ocidental, o nome: ser. [MHeidegger A CONSTITUIÇÃO ONTO-TEO-LÓGICA DA METAFÍSICA]


Se, portanto, procuramos um diálogo pensante com Hegel, devemos falar-lhe não apenas sobre o mesmo objeto, mas, da mesma maneira, sobre o mesmo objeto. O mesmo, porém, não é o igual. No igual a diversidade desaparece. No mesmo a diversidade se manifesta. Ela surge com tanto mais premência quanto mais decisivamente um pensamento é abordado do mesmo modo pelo mesmo objeto. Hegel pensa o ser do ente especulativo-historialmente. Ora, bem, na medida em que o pensamento de Hegel faz parte de uma época histórica (isto não significa absolutamente que pertença ao passado), procuramos pensar, da mesma maneira que Hegel, o ser por ele pensado, quer dizer, historialmente.
O pensamento somente pode permanecer junto de seu objeto se, no permanecer-junto, o mesmo objeto cada vez se torna para ele mais objetivo e mais controvertido. Desta maneira, o objeto exige do pensamento que sustente o objeto em sua situação, que lhe esteja à altura por uma correspondência, enquanto o conduz para a sua de-cisão. O pensamento que permanece junto a seu objeto deve, se este objeto é o ser, engajar-se na de-cisão do ser. De acordo com isto, estamos obrigados a melhor clarificar, no diálogo com Hegel, e, de antemão, para este diálogo, a mesmidade do mesmo objeto. Pelo que foi dito, exige isto que seja trazida à luz, com a diversidade do objeto do pensamento, ao mesmo tempo, a diversidade do elemento historial no diálogo com a história da filosofia. Tal esclarecimento deve tomar aqui, necessariamente, a forma de um breve esboço. [MHeidegger A CONSTITUIÇÃO ONTO-TEO-LÓGICA DA METAFÍSICA]


Aqui se exige, não resta dúvida, uma observação intermediária que diz respeito ao nosso discurso sobre o objeto do pensamento, observação que sempre novamente reclama nossa atenção. Dizendo o “ser”, utilizamos a palavra na generalidade mais ampla e indeterminada. Quando, porém, falamos somente de uma generalidade, pensamos o ser de modo impróprio. Representamos o ser de um modo em que ele, o ser, jamais se dá. A natureza do comportamento do objeto do pensamento, ou ser, permanece um estado de coisas original. Nosso modo corrente de pensar sempre pode primeiro apenas clarificá-lo de maneira insuficiente. Procuremos fazer isto trazendo um exemplo no qual se deve atentar para o fato de que em nenhum lugar do ente se dá um exemplo para a manifestação do ser como fenômeno, provavelmente porque a manifestação do ser como fenômeno é o que, em cada exemplo, já está em jogo. [MHeidegger A CONSTITUIÇÃO ONTO-TEO-LÓGICA DA METAFÍSICA]