No deixar-ser (sein-lassen) desvelados e que simultaneamente dissimula o ente em sua totalidade acontece o fato de que a dissimulação (Verbergung) aparece como aquilo que está velado em primeiro lugar. Enquanto existe, o ser-aí (Dasein) instaura o primeiro e o mais amplo não-desvelamento, a não-verdade original. A não-essência original da verdade é o mistério. O termo não-essência (Unwesen) não implica aqui ainda aquele traço de degradação que lhe atribuímos quando a essência é entendida como universalidade (koinon, genos), como possibilitas (possibilitação (Ermöglichung)) do universal e como seu fundamento. É que a não-essência visa aqui à essência pré-existente. Ordinariamente, entretanto, a “não-essência” designa a deformação da essência já degradada. Mas em todas estas significações a não-essência está sempre ligada essencialmente à essência, segundo as modalidades correspondentes, e jamais se torna inessencial no sentido de indiferente. Falar, entretanto, assim da não-essência e da não-verdade choca demasiadamente a opinião ainda corrente e parece uma acumulação forçada de “paradoxos” arbitrariamente construídos. Já que é difícil afastar esta aparência, renunciamos a esta linguagem paradoxal apenas para a doxa (opinião) comum. Para o bom entendedor certamente o “não” da não-essência original da verdade como não-verdade aponta para o âmbito ainda não-experimentado e inexplorado da verdade do ser (e não apenas do ente). (MHeidegger – SOBRE A ESSÊNCIA DA VERDADE)