McNeill (2020:C5) – a dispensa da fenomenologia e da ontologia na questão do ser

Tradução

(…) Se o pensamento já não está limitado ao horizonte da fenomenalidade, da auto-revelação das coisas, o que é que o impede de se tornar arbitrário ou caprichoso? A que é que estará limitado? Se a base ou o fundamento ôntico da ontologia já não é o ente que compreende o ser, então em que se baseará este outro pensamento? Estará fundamentado de todo num ente ou em entes? Se não, não estará a cometer aquilo que Heidegger considera ser o excesso do pensamento de Hegel, nomeadamente, dissolver tudo no ontológico, ou tornar-se puramente abstrato e especulativo? No entanto, se o ser já não deve ser entendido em termos de ontologia ou do ontológico, então talvez esta última preocupação perca o seu peso. Qual seria, nesse caso, a nova dimensão de um pensamento do ser (ou do “seer”, como Heidegger começa agora a escrevê-lo, usando a ortografia arcaica que também se encontra em Hölderlin) que já não seria ontológico e ao qual já não se acede através da abordagem fenomenológica? Presumivelmente, é a de uma dimensão mais “originária” (ursprünglich), a do próprio Ereignis como “origem” (Ursprung), a que o pensamento só pode acceder através de um salto para dentro (Einsprung), só saltando para dentro dele. Esta “origem” não seria nem ôntica nem ontológica (portanto, não mais pensada em termos da diferença ontológica, ela própria uma relíquia do platonismo, embora numa forma mais originária, como Heidegger de fato reconhece) [GA 82:16], nem transcendental nem horizontal, isto é, concebida em termos de horizontalidade temporal, ou Temporalität.

Original

[MCNEILL, William. The fate of phenomenology: Heidegger’s legacy. Lanham: Rowman & Littlefield, 2020]

  1. For the remark on Hegel, see GA24, 466.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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