McNeill (1999:43-44) – noûs

Pois o noûs apreende o que é último (eschaton) em ambos os aspectos, uma vez que os últimos e as delimitações primárias (proton horon) são apreendidos pelo noûs e não pelo logos. Nas demonstrações, o noûs apreende as delimitações imutáveis e primárias, nas inferências práticas ele apreende o fato último (eschatou) que pode ser de outra forma, a premissa menor, uma vez que esses são os primeiros princípios (archai) a partir dos quais o fim (hou heneka) é inferido. E o universal é extraído do particular; portanto, devemos ter percepção (aisthesis) dos particulares, e essa percepção é noûs. (Ética a Nicômaco, 1143 a35f.)

O noûs está presente tanto na sophia quanto na phronesis. E o que é apreendido pelo noûs é, em cada caso, algo último: ou as delimitações universais ou archai que permanecem as mesmas e compreendem o ponto de partida da demonstração no conhecimento científico, ou o fato último ou estado de coisas que pode ser diferente e no qual toda deliberação no logos termina. A visão prática é intrinsecamente escatológica, pois revela e, portanto, compreende, em sua própria operação, um eschaton que marca o limite do logos, um fim que o próprio logos não pode alcançar. O noûs da phronesis é uma apreensão de entes que intrinsecamente “excede o logos” (GA19, 158). Embora a phronesis guie e dirija toda a ação do phronimos, ela permanece dependente de algo além de si mesma, a saber, “a própria ação” e, portanto, não é (diferentemente da theorein da episteme ou da sophia) uma forma independente de revelação. Como diz Heidegger, “a phronesis está mais na praxis do que no logos” (GA19, 139). Quer estejamos preocupados com a deliberação, o cálculo ou a demonstração, o pensamento discursivo só pode trabalhar com o que já foi revelado por meio de um ato finito e único de noûs.

O que isso significa, na leitura de Heidegger, é que a estrutura intrínseca da phronesis é “a mesma” que a da sophia: ambas são um aletheuein aneu logon, uma verdadeira revelação sem logos:

A phronesis é estruturalmente igual à sophia; é um aletheuein aneu logon; isso é o que a phronesis e a sophia têm em comum. No entanto, no caso da phronesis, a apreensão pura pode ser encontrada no lado oposto. Temos aqui duas possibilidades de noûs: noûs em sua concreção mais extrema e noûs no katholou mais extremo, em sua universalidade mais universal. (GA19, 163)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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