McNeill (1999:2-3) – curiosidade (Neugier)

destaque

(…) Heidegger observa que a primazia filosófica concedida à visão foi reconhecida particularmente por Agostinho no Livro X das suas Confissões, que discute a concupiscentia oculorum, o desejo do olho. “A verdade originária e genuína”, como diz Heidegger (3), “reside no puro contemplar [ou intuir: Anschauung]. Esta tese continua a ser o fundamento da filosofia ocidental desde então” (SZ, 171). No entanto, não é notável que Heidegger coloque aqui uma discussão sobre esta tradição e a sua ênfase no ver numa seção que tem o simples título “Curiosidade” (Die Neugier)? Uma seção que, em poucas frases, abrange Parménides, Aristóteles, Agostinho e Hegel: A filosofia ocidental desde os seus primórdios até ao seu apogeu! Estará Heidegger a insinuar que toda a filosofia ocidental pode, de alguma forma, ser reduzida a uma curiosidade? É difícil evitar esta impressão, não obstante a afirmação de que a curiosidade não procura compreender o que é visto, mas procura “apenas ver”, ou “apenas ver e ter visto”, como Heidegger mais tarde afirma (SZ 172, 346). Não obstante a garantia de que “a curiosidade não tem nada a ver com contemplar os seres e maravilhar-se com eles — com thaumazein”. Pois pode ser que um thaumazein originário tenha sido precisamente o que se extinguiu quando a filosofia entrou em cena.

original

[MCNEILL, William. The Glance of the Eye. Heidegger, Aristotle, and the Ends of Theory. New York: SUNY, 1999, p. 2-3]

  1. This weakening of the experience of thaumazein in Aristotle has been suggested by Hannah Arendt in The Life of the Mind, vol. 1 (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1978), 114. On philosophy and wonder, see also John Sallis, Double Truth (Albany: State University of New York Press, 1995), chapter 11; and especially his essay “… A wonder that one could never aspire to surpass,” in The Path of Archaic Thinking, ed. K. Maly (Albany: State University of New York Press, 1995), 243-74. See also Walter Bröcker, Aristoteles, 5th ed. (Frankfurt: Klostermann, 1987), 18-23.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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