Bochenski1962
Entre os filósofos que receberam a influência de Husserl, Max Scheler ocupa lugar de destaque, graças a sua originalidade e a seus dotes especulativos. Nascido em Munique, em 1874, foi discípulo de Eucken, ensinou primeiramente nas universidades de lena e de Munique e, desde 1919, na de Colônia. Desta foi chamado para a universidade de Francfort do Meno, onde morreu em 1928, antes de haver dado início a seus cursos.
Scheler era uma personalidade extraordinária, sem dúvida, o pensador alemão mais fulgurante de seu tempo. Sua força reside no campo da ética; mas dedicou igualmente interesse não menos apaixonado à filosofia da religião, ã sociologia e a outros problemas. Seu pensamento é sempre importante e próximo da vida, e seus escritos são extremamente ricos de problemas. No domínio da ética, sua obra é sem dúvida a mais importante e a mais característica da primeira metade do século XX.
As mais diversas correntes estimularam seu pensamento. Na quadra da juventude esteve sob a influência de seu mestre Eucken, da qual dão testemunho seus dois primeiros livros. O pensamento de Eucken gira em tôrno da vida do espírito. Eucken é uma espécie de filósofo da vida, com a diferença de que nele ocupa o primeiro lugar a vida do espírito. É outrossim um dos admiradores de S. Agostinho, estes dois rasgos, voltamos a encontrá-los em Scheler. Assim, segundo ele, S. Agostinho é o grande teórico do amor, de um amor concebido pelo grande santo de maneira original e desconhecido dos gregos. No segundo período de sua vida, Scheler prosseguirá conscientemente nesta via. Além de S. Agostinho, influíram nele, de maneira definitiva, a filosofia da vida, Nietzsche, Dilthey e Bergson. Pelo que, houve quem o chamasse o “Nietzsche católico” (Troeltsch). Contudo, Husserl foi, talvez, para ele mais importante, pois Scheler não faz mais do que continuar-lhe a doutrina, modificá-la e transpô-la para outro plano. Depois do fundador, passa por ser o primeiro fenomenólogo.
Podemos distinguir três períodos na vida de Scheler. O primeiro — como fica dito — é dominado por Eucken. A seguir, vem a fase da maturidade (entre 1913 e 1922), durante a qual surgem as obras decisivas: Der Formalismus in der Ethik und die materiale Wertethik (O formalismo em ética e a ética material dos valôres), que apareceu primeiramente no Anuário de Husserl (1913-1916), sua obra fundamental, e duas coleções de ensaios com os títulos Vom Umsturz der Werte (Acerca da subversão dos valores) (1919) e Vom Ewigen im Menschen (Do eterno no homem) (1921). Nesta época Scheler é personalista, teísta e cristão convicto. Sofre, em seguida, uma transformação interior, em que têm alguma participação sua natureza pouco unitária e o dinamismo apaixonado de uma vida: não só perde a fé de outrora, como também abandona sua posição de teísta. Esta mudança revela-se já em Die Wissensformen und die Gesellschaft (As formas do saber e a sociedade) (1926); e Die Stellung des Menschen im Kosmos (A situação do homem no cosmos) (1928) exprime-a da maneira mais clara. Se até então a filosofia de Scheler se centrava na ideia do deus de amor pessoal, de ora avante diz-nos que o homem “é o lugar único da divinização”. A morte prematura impediu que Scheler desenvolvesse pormenorizadamente seu pensamento deste último período de sua vida.