- destaque
- original
destaque
(…) O primeiro (tédio) consiste em aborrecer-se com algo, portanto por algo: de acordo com a temporalidade correspondente, o aborrecimento lamenta perder tempo com algo que não o merece; desafia, portanto, o privilégio concedido, por manuseamento utilitário, a um ente particular. O segundo (tédio) consiste em estar aborrecido consigo mesmo a respeito de algo: de acordo com a temporalidade correspondente, o tédio atribui-nos um estado presente desprovido de qualquer futuro; expõe-nos, portanto, a receber todo ente, todo ente como um todo, de frente e indiscriminadamente. Por fim, o “tédio profundo” põe em causa o “eu” em pessoa: aborrecemo-nos de nós mesmos em nós mesmos, de modo que todo o ente enquanto tal entra em suspensão: “O ente como um todo tornou-se indiferente. Aqui o acesso à totalidade do ente resulta diretamente da indiferença: é precisamente porque o tédio afoga na névoa da indiferença não só os estados, mas sobretudo as diferenças entre estados e mesmo a diferença entre os estados intramundanos e o Dasein — “… todos os homens e nós com eles…” —, que a quantidade de estados se reduz. A indiferença torna-os todos indiferenciados, de modo que alguns já são suficientes para nos fazer experimentá-los todos. O tédio, ao confundir todos os estados do ente na indiferenciação, abre-se à totalidade do ser e, portanto, ao mundo: “Chamamos ao espaço (Weite) deste ‘como um todo’ (‘im Ganze’), tal como ele se abre no tédio profundo, o mundo.” Assim, através da tonalidade do tédio, o Dasein accede ao ente como um todo enquanto fenômeno dado em pessoa, sem reservas nem condições; o ente em totalidade dá-se a ver, precisamente porque o tédio torna indiferentes as diferenças qualitativas e quantitativas entre os entes. O Dasein é assim lançado como tal no meio do ente como um todo.
original
- « Das Seiende im Ganzen ist gleichgültig geworden », Wegmarken, p. 110.[
]
- Die Grundbegriffe der Metaphysik. Welt-Endlichkeit-Einsamkeit, GA, 29/30, § 31, p. 212. Une analyse de cette analyse de l’ennui a été fournie par M. Haar, « Le temps vide et l’indifférence à l’être », in Exercices de la patience, 7, 1986.[
]
- Die Grundbegriffe der Metaphysik, GA29-30, § 39, p. 251.[
]
- L’étude des énoncés de Heidegger concernant l’amour (et la joie) reste à faire. Mentionnons quelques textes. — (a) “Prolegomena zur Geschichte des Zeitbegriffs (été 1925), § 20 : « Das, was wir hier als In-Sein des Daseins herausstellten und noch näher charakterisierten, ist das ontologische Fundament dafür, was Augustinus und vor allem dann Pascal kannten. Sie nannten das, was eigentlich erkennt, nicht das Erkennen, sondern Liebe und Hass » (GA, 20, p. 222) : la réduction de l’amour à la « question de l’être » est ici assez violente, pour que Heidegger ne tente pas de la justifier (même « plus tard », comme le promet la suite du texte). — (b) D’ailleurs ce même cours avait commencé par traiter de l’amour à partir de l’intentionnalité, sur le mode d’une simple noèse parmi d’autres : « Jedes Sich-richten-auf, Furcht, Hoffnung, Liebe hat den Charakter des Sich-richtens-auf, den Husserl als Noesis bezeichnet » (ibid., p. 61). — (c) Hölderlins Hymnen « Andenken » (1941-1942) maintient cette réduction, à sa manière : « Liebe und Taten sind das Dichterische des Zeit-Raumes, in dem die Sterblichen eigentlich “da” sind » (§ 54, GA, 52, p. 161). — (d) Brief über den « Humanismus » (1946) : « Sich einer “Sache” oder einer “Person” in ihrem Wesen annehmen, das heisst : sie lieben : sie mögen » (Wegmarken, GA, 9, p. 316) : il s’agit ici sans conteste de reconduire l’amour à la « question de l’être ». — (e) D’autres textes reprennent seulement la réduction, propre à la métaphysique, de l’amour à la volonté; ainsi Hölderlins Hymnen « Germanien » und « Das Rhein » (1934/1935), GA, 39, p. 82 et 94; Nietzsche I (1935), p. 470 (voir Nietzsche metaphysiche Grundstellung im abendländischen Denken. Die ewige Wiederkehr des Gleichen (été 1937), § 22, GA, 44, p. 232). On pourrait y rattacher le jugement sans appel porté sur (contre) la charité chrétienne par Nietzsches Wort « Gott ist tot » (1943) : « Christlicher Glaube wird da und dort sein. Aber die in solcher Welt waltende Liebe ist nicht das wirkend-wirksame Prinzip dessen, was jetzt geschieht » (Wegmarken, GA, 5, p. 254). — Quant à la joie, elle ne reçoit pas un traitement meilleur. Certes, l’Einführung in die Metaphysik (été 1935) oppose à l’ennui le « Jubel des Herzens » (GA, 40, p. 3), mais sans autre explication. On ne saurait non plus considérer les textes de Nietzsche I (p. 56 et 65) ou de Ueberwindung der Metaphysik, § 28 (1936-1946, in Vorträge und Aufsätze, I, Pfullingen, 19541, p. 91) comme des indications phénoménologiques suffisantes.[
]
- Comme nous l’avons esquissé dans Prolégomènes à la charité, Paris, 1986, en particulier chap. IV.[
]