Marion (1989:252-253) – o nada [Nichts]

destaque

Como colocar e construir a questão do “fenômeno do ser”? Para não repetir a aporia a que a analítica transcendental do Dasein conduziu em 1927, seguiremos doravante o caminho traçado pela conferência de 1929. Esta tenta acceder diretamente ao ser (sem a mediação do ser do ente do Dasein); além disso, pretende fazê-lo no terreno das ciências positivas, que negam constantemente toda a legitimidade e toda a possibilidade de qualquer “fenômeno do ser”. As ciências positivas, com efeito, não têm de conhecer o ser, que nunca aparece sob o seu bisturi; só o ente, porque pode deixar-se constituir como objeto pelos métodos que o constituem de cada vez, aparece no seu horizonte; fora dos entes objetiváveis, nada têm a estudar, a admitir ou a tolerar. “Aquilo para que a relação mundana se dirige é o próprio ente — e nada mais (und sonst nichts). Aquilo a partir do qual cada atitude recebe a sua direção é o próprio ente — e nada mais (und sonst nichts). Aquilo com que a análise investigativa irrompe é o ente em si — e nada mais (und sonst nichts). Daí um triplo paradoxo: a relação mundana (Weltbezug), a atitude (Haltung) e a irrupção (Einbruch) com que as ciências positivas erigem os seus objectos sem referência ao ser, ou a qualquer outra coisa que não seja apenas esta objetividade, esta mesma coisa introduz, sem o reconhecer explícita e quase clandestinamente, um outro termo — um termo diferente de qualquer objeto: o “nada além”, portanto o nada como diferente do objeto e do ente objetivado.

original

MARION, Jean-Luc. Réduction et donation: Recherches sur Husserl, Heidegger et la phénoménologie. Paris: PUF, 1989.

  1. Wegmarken, GA9, p. 105, suivant la récente traduction de R. Munier, op. cit., p. 48. — Heidegger souligne en note que ces formules proviennent directement de Taine, sans précision de références. On peut songer, entre autres, à certains thèmes développés par De l’intelligence (Paris, 18701) : « Il faut remarquer enfin que les noms de force et de substance, de moi et de matière ne désignent que des entités métaphysiques, qu’il n’y a rien de réel dans la nature sauf des trames d’événements liées entre eux et à d’autres, qu’il n’y a rien de plus en nous-mêmes ni en autre chose » (II, I, I, i, t. 2, éd. 18783, p. 5); le pouvoir du moi reçoit une critique privilégiée : « C’est une particularité constante pour ma résolution, d’être suivie à travers dix intermédiaires indispensables par le déplacement de mon bras. Rien de plus. — Par malheur, de cette particularité qui est un rapport, nous faisons (…) une substance. (…) en soi, il n’est rien. (…) l’être en question étant un pur néant (…). » De même, sa substance : « Si on le (le moi) considère à un moment donné, il n’est rien qu’une tranche interceptée dans la trame (…). A tout moment la tranche est analogue; il n’est donc rien d’autre, ni de plus » (I, IV, III, t. 1, p. 341 et 345).[↩]
  2. Wegmarken, GA9, p. 106, tr. fr. p. 48.[↩]
  3. « Welch zwiespältiges Wesen enthüllt sich da ? », Wegmarken, ibid. (traduction modifiée). — Sur ces points, on se reportera au commentaire de J. Beaufret, « La pensée du rien dans l’œuvre de Heidegger », La Table ronde, n° 183, Paris, 1963; repris successivement dans l’Introduction aux philosophies de l’existence (Paris, 1971) et De l’existentialisme à Heidegger (Paris, 1986).[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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