Lima Vaz (1999:14) – etimologia do termo “moral”

LIMA VAZ, Henrique C. de. Escritos de Filosofia IV. Introdução à Ética Filosófica I. São Paulo: Edições Loyola, 1999, p. 14.

O vocábulo moral, tradução do latim moralis, apresenta uma evolução semântica análoga à do termo ético (a). Etimologicamente a raiz de moralis é o substantivo mos (mores) que corresponde ao grego ethos, mas é dotado de uma polissemia mais rica, pois seu uso se estende a um amplo campo de expressões como pode ser verificado nos léxicos latinos 1.

Mas já desde a época clássica, moralis, como substantivo ou adjetivo, passa a ser a tradução usual do grego ethike 2 e esse uso é transmitido ao latim tardio e, finalmente, ao latim escolástico, prevalecendo seu emprego tanto como adjetivo para designar uma das partes da Filosofia 3 ou qualificar essa disciplina filosófica com a expressão Philosophia moralis, hoje vulgarizada nas diversas línguas ocidentais, quanto simplesmente como substantivo 4, como Moral em nossa linguagem corrente.

  1. Por exemplo, Aeg. Forcellini, Lexikon totius latinitatis, nova ed., Pádua, Seminario, MCXXXX, t. III, p. 295. Em seu excelente Dizionario latino-italiano, Turim, Rosenberg e Cellier, 3a ed., 1987, col. 1746-1747, F. Calonghi enumera as seguintes acepções de mos, seguindo uma ordem de progressivo enriquecimento semântico: a. Vontade, desejo; b. conduta, seja como costume, uso, hábito, seja como comportamento, atitude, c. modo de ser, estado, natureza; d. lei, preceito, regra. Sobre a interpretação medieval de mos (inclinatio naturalis, consuetudo), ver Tomás de Aquino, Summa Theol., 1a. 2ae, q. 58, a. 1, c.[↩]
  2. Referindo-se a ethike diz Μ. T. Cícero: sed decet augentem linguam latinam nominare moralem (De fato, 1, 1).[↩]
  3. Ver Sêneca (Epistola 102, 4; Ep. 89): (Stoici) philosophiae tres partes esse dixerunt: moralem, naturalem et rationalem. Santo Agostinho, seguindo uma tradição doxográfica, atribui a Platão a divisão da Filosofia em moralis, naturalis, rationalis. Eis suas palavras: Plato (…) philosophiam perfecisse laudatur quam in tres partes distribuit: unam moralem quae magis in actione versatur; alteram naturalem quae contemplationi deputata est; tertiam rationalem qua verum disterminatur a falso (De Civitate Dei, VIII, 4).[↩]
  4. Assim ocorre no dístico medieval que resume os quatro sentidos da Escritura: Littera gesta docet, quid credas allegoria / Moralis quid agas, quo tendas anagogia.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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