SZ usa duas palavras para “tradição”. Tradition vem do latim traditio, “entrega, transmissão”, de tradere, “transmitir a posse, ceder etc.”. Überlieferung vem de überliefern, “transmitir”, e de liefern, “prover, entregar”, que, embora pareça um termo germânico, vem na realidade do latim liber(are) “livre; liberar”, através do francês livrer. O inverso de überliefern é überkommen, “descer/suceder a”; o que é transmitido chega até nós. Heidegger utiliza três palavras para “tradicional”: traditionell, überliefert (“transmitido”) e überkommen (“o que chegou”). Também utiliza Erbe e Erbschaft, “herança” (SZ, 383ss).
Überlieferung pouco difere em significado de Tradition. É porém mais flexível, prestando-se a diversas associações com outros verbos-über. Tradition também pode participar destas associações, já que Heidegger sabia que tradere era originalmente transdare, “dar (dare) através (trans)”: “Quando a tradição (Tradition) torna-se senhora, de início e na maior parte das vezes torna aquilo que ‘transmite’ (‘übergibt’ ) tão inacessível que na verdade o encobre. Ela entrega (überantwortet) aquilo que chega até nós (das Überkommene) à obviedade, travando nosso acesso às ‘fontes’ originárias das quais as categorias e conceitos a nós transmitidos (überlieferte) foram hauridos de um modo parcialmente genuíno” (SZ, 21). Frequentemente, embora não invariavelmente, Überlieferung é mais favorável do que Tradition. Tradition tende a ser obscura c está associada com Destruktion (SZ, 22; Überlieferung tende a promover possibilidades e está associada com a REPETIÇÃO (SZ, 385). Das Überlieferte, “o que nos é transmitido”, é um dos significados de geschichtlich, “histórico” (SZ, 379). Heidegger tende a reservar traditionell pura doutrinas filosóficas a que ele se opõe: “o conceito tradicional de tempo” (SZ, 18 etc.), o “conceito tradicional de verdade” (SZ, 214ss), e a “ontologia tradicional” (SZ, 22 etc.). Mas os lados bons e maus da tradição não podem ser facilmente separados: “A liberação da tradição (Tradition) apropria-se sempre de novo dos recursos que nela reconhecemos” (GA29, 511). (Inwood, MIDH)