(Levinas1967)
Ir às coisas mesmas — significa, em primeiro lugar, não se limitar às palavras, que visam apenas a um real ausente. Essa imperfeição da intenção significativa — Husserl a reconhece na ambiguidade que se insinua inevitavelmente no pensamento verbal. A ambiguidade, um defeito aparentemente menor e que parece poder ser conjurado com um pouco de clareza no pensamento — revela-se imediatamente como inevitável, ou como essencial ao pensamento que se limita às palavras. Ambiguidade, filha do vazio ou da atmosfera rarefeita da abstração. Mas o recurso ao pensamento intuitivo — à Erfüllung oposta ao pensamento significativo — não põe fim a essas ambiguidades que ameaçam toda visão voltada para o objeto. O retorno aos atos nos quais se revela essa presença intuitiva dos objetos é necessário para acabar com a ambiguidade — ou seja, com a abstração e com a parcialidade da relação com o objeto. O retorno aos atos nos quais se revela a presença intuitiva das coisas é o verdadeiro retorno às coisas. Esse é, certamente, o grande impacto causado pelas Investigações Lógicas — precisamente porque o primeiro volume dessa obra — os Prolegômenos — e tudo o que na Investigações II e III se diz em favor do objeto e de sua essência — impedia que se desse a esse recurso aos atos da consciência um significado psicologista. Desde as L.U., afirma-se, portanto, o que nos parece dominar o modo de proceder dos fenomenólogos: o acesso ao objeto faz parte do ser do objeto.