Levinas (1991:12-13) – ato de pensar

José Pinto Ribeiro

Conter mais do que a sua capacidade não significa abarcar ou englobar pelo pensamento a totalidade do ser ou, pelo menos, poder dar-se conta dela a posteriori, pelo jogo interior do pensamento constituinte. Conter mais que a sua capacidade é, em cada momento, fazer saltar os quadros de um conteúdo pensado, transpor as barreiras da imanência, mas sem que a descida ao ser se reduza de novo a um conceito de descida. Alguns filósofos procuraram exprimir pelo conceito do acto (ou da encarnação que o toma possível) essa descida ao real que o conceito de pensamento, interpretada como puro saber, manteria como um jogo de luzes. O acto do pensamento — o pensamento como acto — precedería o pensamento que pensa um acto ou que dele toma consciência. A noção de acto comporta essencialmente uma violência, (14) a da transitividade que falta à transcendência do pensamento, encerrado em si mesmo, apesar de todas as suas aventuras, no fim de contas, puramente imaginárias ou percorridas como que por Ulisses, para regressar ao lar. O que no acto ressalta como essencial violência é o excedente do ser sobre o pensamento que pretende contê-lo, a maravilha da ideia do infinito. A encarnação da consciência só pode, pois, compreender-se se, para além da adequação, o transbordamento da ideia pelo seu ideatum — isto é, a ideia do infinito — move a consciência. A ideia do infinito, que não é uma representação do infinito, suporta a própria actividade. O pensamento teorético, o saber e a crítica aos quais opomos a actividade, têm o mesmo fundamento. A ideia do infinito que não é, por sua vez, uma representação do infinito é a fonte comum da actividade e da teoria.

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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