Comecemos com o fato de que as entidades são significativas. Dizer que as entidades são significativas é dizer que elas aparecem para nós de forma inteligível no contexto do que estamos fazendo. Antes de tudo, encontramos entidades não como objetos, mas como parafernálias com as quais “lidamos” (Umgang), “manipulamos” e “colocamos em uso” (SZ: 66-7) quando estamos “trabalhando” (SZ: 70). Essas entidades estão “prontas para serem usadas” (zuhanden) em nossos projetos. Estar pronto para ser usado é quando uma entidade aparece oferecendo oportunidades para que nos envolvamos com ela. A entidade nos dá oportunidades de agir. As oportunidades de ação que a entidade nos oferece determinam o que ela é. Assim, algo que nos protege da chuva é (dependendo de como isso é proporcionado) um abrigo ou um guarda-chuva (ou uma capa de chuva, um toldo, uma lona etc.), e algo que nos permite transitar de forma acessível e pública é (dependendo de como isso é proporcionado) um ônibus ou um trem (etc.). Heidegger fala da mesa, da porta, do vagão e da ponte (SZ: 149), que permitem (algo como) colocar coisas em cima, entrar ou sair por ela, andar nela e atravessá-la, respectivamente. É por proporcionar essas maneiras de interagir com elas que essas entidades aparecem de forma significativa para nós como mesas, portas, carruagens, pontes, ônibus, pontos de ônibus e guarda-chuvas.
(WITHY, K. Heidegger on being affected. Cambridge, United Kingdom: Cambridge University Press, 2024)