jogar

spielen; “o jogar do jogo e o jogo do jogar [das Spielen des Spiels und Spiel des Spielens]”

No que diz respeito à realidade objetiva e à realidade em geral, Kant diz: “No que concerne à realidade, nos é certamente vedado por si mesmo pensar algo assim in concreto, sem o auxílio da experiência, uma vez que a realidade só pode se referir à sensação como matéria da experiência, e não diz respeito à forma da relação, uma forma com a qual, na melhor das hipóteses, só se poderia JOGAR em ficções”. GA24MAC: §7


Ouçamos o princípio do fundamento na outra tonalidade e meditemos sobre aquilo ouvido, então este meditar é um salto e decerto um salto de envergadura, que põe o pensamento em jogo com aquilo em que o ser como ser repousa, portanto não com aquilo em que se apoia como o seu fundamento. O pensamento atinge através deste salto na distância aquele jogo, em que a nossa essência humana está colocada. Apenas na medida em que o homem é trazido para este jogo e aí colocado em jogo, conseguirá ele verdadeiramente jogar e permanecer em jogo. Em que jogo?

Nós mal experimentámos este jogo e ainda não o pensamos na sua essência, isto é naquilo que ele joga e como ele o joga, e como é que o jogar deve aqui ser pensado. Quando nós asseguramos que o jogo aqui referido, no qual o ser como ser repousa, é um jogo elevado e até o jogo supremo e livre de qualquer arbítrio, então com isso diz-se pouco, enquanto este elevado e o seu supremo não é pensado a partir do segredo do jogo. Pensar isto, não é contudo suficiente para o modo de pensar até agora; porque logo que ele busca pensar o jogo, isto é concebê-lo segundo a sua espécie, toma-o como algo, que é. Ao ser de um ente, portanto também ao jogo, pertence então o fundamento. A essência do jogo é por conseguinte definida como dialéctica de liberdade e necessidade por toda a parte no raio de acção do fundamento, da ratio, da regra, das regras do jogo, do cálculo. Talvez se devesse traduzir mais apropriadamente a frase de Leibniz: Cum Deus calculat fit mundus, por: Enquanto Deus joga, faz-se mundo.

A pergunta para a qual nos indica o salto na outra tonalidade do princípio do fundamento, reza: Deixa-se a essência do jogo definir convenientemente a partir do ser como fundamento, ou deveremos nós pensar ser e fundamento, ser como sem-fundo a partir da essência do jogo e certamente do jogo para que nós, mortais, somos trazidos, pois apenas somos nós quem mora na proximidade da morte, a qual como possibilidade mais extrema da existência (Daseins) alcança o mais elevado na clareira do ser e da sua verdade? A morte é a medida ainda impensada do incomensurável, isto é do jogo supremo no qual o homem trazido à terra, é posto.

Mas não se tratará de um simples comportamento lúdico, quando nós agora na conclusão do curso sobre o princípio do fundamento, arrastamos os pensamentos quase violentamente para o jogo e a unidade de ser e fundamento com o jogo? Assim poderá parecer, enquanto nós ainda continuarmos a abstermo-nos de pensar histórica-ontologicamente, e isto quer dizer de nos confiarmos reflectidamente o vínculo resolúvel na tradição do pensamento. [GA10JTM:161-162]