Hermann Schmitz (Nova Fenomenologia) – auto-atribuição

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Em minha opinião, uma pessoa é um sujeito consciente com a capacidade de auto-atribuição. A auto-atribuição consiste em tomar algo como sendo ele mesmo (ou ele mesmo como sendo algo). Todos os desempenhos pessoais específicos surgem dessa capacidade: assumir responsabilidade, prestar contas de si mesmo, atribuir a si mesmo um lugar no ambiente de pessoas, coisas e estados de coisas. Assim, a característica única da personalidade parece ser capturada por minha caracterização.

A auto-atribuição é uma identificação de algo comigo (Todo mundo deve pensar em si mesmo.). Ou é uma descrição definida, que se aplica apenas à pessoa em questão, ou pode ser facilmente aperfeiçoada dessa forma. Mas, no caso da auto-atribuição, a descrição definida se diferencia por ter uma inadequação peculiar. Com qualquer outra descrição definida, pode-se esperar conhecer a coisa descrita pela primeira vez, por exemplo, um quarto de hotel, no qual devo passar a noite, especificando a cidade, a rua, o número da casa, o andar e o número do quarto. Somente no caso da auto-atribuição é que a projeção correta do par (ordenado), o relatum (com o que algo é identificado), precisa ser familiar antes do ato de identificação. Caso contrário, haveria uma regressão infinita sem objetivo, com a introdução constante de novas descrições como explanantia, sem nunca revelar que é a mim que se refere. Por exemplo, no meu caso, haveria uma progressão de um homem bom em Leipzig em 1928 para um professor emérito de filosofia, em cada caso com a adição de informações suficientes para uma descrição definitiva. Em nenhum caso seria possível descobrir que sou exatamente eu que sou esse indivíduo; pois todas as especificações apropriadas de, por um lado, Hermann Schmitz e, por outro, Alexandre, o Grande, não contêm nada que indique que eu sou, por exemplo, Hermann Schmitz e não Alexandre. Para saber isso, eu já devo estar familiarizado comigo mesmo antes de qualquer identificação. Somente na direção oposta é que essa afirmação pode se tornar certa: se eu já me conheço, posso, com base na experiência e na lembrança de suas circunstâncias, alocar-me em meu lugar apropriado no mundo. Se, ao fazer isso, eu estiver enganado, por exemplo, ao sonhar ou porque estou iludido, o que eu identifico comigo mesmo está completamente fora de ordem, mas nada muda em relação ao que eu identifico, ou seja, eu mesmo; pois eu trago o conhecimento de mim mesmo para a identificação e me apego a ele em todas as auto-atribuições.

Rudolf Owen Müllan

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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