Henry (1963:§69) – sentimento e ação

tradução

A determinação ontológica fundamental da afetividade como constituindo o ser da vontade e da ação coloca a problemática perante esta consequência essencial: na medida em que lhes é interior como seu ser, como constituindo a sua própria essência e realidade, o sentimento não pode depender da vontade ou do seu exercício, da ação, nem ser produzido por elas. Que o sentimento não possa depender da vontade ou da ação, que não ocorra como sua consequência ou como seu efeito, que não possa ser minimamente modificado pelo seu exercício, resulta precisamente do facto de que os precede, não apenas, para dizer a verdade, como antecedente ou como motivo, mas precisamente como aquilo que lhes dá o seu ser, como a sua possibilidade mais interior e como o seu fundamento. O sentimento não pode ser produzido ou modificado pela vontade porque está presente nela; escapa necessariamente à nossa ação porque está lá, já, quando a ação ocorre e precisamente para que possa ocorrer. Porque o sentimento está presente na vontade, porque já está presente quando a ação tem lugar e para que possa ter lugar, porque os penetra como aquilo que lhes dá permissão para serem de cada vez e como o seu ser original, o sentimento domina-os necessariamente, domina e determina tudo o que esta vontade quer e tudo o que consegue, tudo o que esta ação faz. Deste modo, postula-se uma propriedade essencial, não como uma simples proposição psicológica relativa às diversas modalidades da vida afectiva, mas como pertencente à essência da vida afectiva, à própria afetividade. A determinação ontológica fundamental da afetividade como constituindo o ser da vontade e da ação significa identicamente a sua independência absoluta em relação a elas, a impossibilidade principial de agir sobre o sentimento.

Original

La détermination ontologique fondamentale de l’affectivité comme constituant l’être du vouloir et de l’action apporte la problématique devant cette conséquence essentielle : en tant qu’il leur est intérieur comme leur être, comme constituant leur essence et leur réalité même, le sentiment ne saurait dépendre du vouloir ou de son exercice, de l’action, ni être produit par eux. Que le sentiment ne puisse dépendre du vouloir ou de l’action, qu’il ne se produise pas comme leur conséquence ou comme leur effet, qu’il ne puisse non plus être modifié si peu que ce soit par leur exercice, cela résulté justement de ce qu’il les précède, non pas seulement, à vrai dire, comme un antécédent ou comme un mobile, mais comme ce qui leur confère l’être précisément, comme leur possibilité la plus intérieure et comme leur fondement. Le sentiment ne peut être produit ni modifié par le vouloir parce qu’il est présent en lui, il échappe nécessairement à notre action parce qu’il est là, d’ores et déjà, lorsque l’action se produit et précisément pour qu’elle puisse se produire. Parce que le sentiment est présent dans le vouloir, parce qu’il est là, d’ores et déjà, lorsque l’action se produit et pour qu’elle puisse se produire, parce qu’il les pénètre comme ce qui leur donne chaque fois la permission d’être et comme leur être originel, le sentiment les domine nécessairement, domine et détermine tout ce que veut ce vouloir et tout ce qu’il réalise, tout ce que fait cette action. Ainsi se trouve posée, non comme une simple proposition psychologique concernant les diverses modalités de la vie affective, mais comme appartenant à l’essence de celle-ci, à l’affectivité elle-même, une propriété essentielle. La détermination ontologique fondamentale de l’affectivité comme constituant l’être du vouloir et de l’action signifie identiquement son indépendance absolue à leur égard, l’impossibilité principielle d’agir sur le sentiment.