Haar (1987/1993:25-26) – A Terra é mais antiga que Adão

detalhe

A Terra é mais antiga que Adão, mais antiga que a História. E, no entanto, a Terra não é “pura Natureza”. Embora apareça na epoche e na clareira do ser como todo ente, não se reduz a um ente nem sequer ao epocal, mas retém-se a si mesma, como ser, conservando assim uma dimensão extra-epocal. Histórica e, no entanto, não histórica, ela aparece como o solo mais elementar do mundo, como o seu corpo, ao qual o nosso corpo está necessariamente ligado.

A Terra, como base oculta do mundo, surge como essencialmente opaca e fechada em si mesma. Como está manifestamente fechada em si mesma, apresenta ao Aberto a sua maior contrariedade: “a sua mais forte resistência e, portanto, precisamente o lugar da sua mais constante estabilidade”. No entanto, esta estabilidade só se revela e se realiza na abertura do ser. Por outras palavras, a Terra não tem “em si” o poder de fornecer um fundamento; é preciso primeiro descobrir um estabelecimento de verdade — particularmente numa obra de arte — antes que o fundamento da Terra possa ser revelado através dela. Este pensamento é o oposto da concepção romântica da Natureza, que a vê como uma fonte última e autônoma de criação. A Terra é uma fonte (25) e um recurso, mas apenas na medida em que é trabalhada e entra num mundo. Heidegger não reconhece o poder da natureza sobre o ser. A natureza está no ser, não o ser na natureza. Assim, a facticidade do corpo humano, enquanto fisiologia, é sempre retomada e transcendida numa compreensão do ser e numa tonalidade afectiva, que de certa forma envolvem o corpo.

original

[HAAR, Michel. Le Chant de la Terre. Heidegger et les assises de l’histoire de l’être. Paris: Herne, 1985]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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