Para compreender o impulso geral dessa obra, devemos começar desfazendo um mal-entendido: o papel emblemático dado ao problema dos múltiplos significados do ser não significa, de forma alguma, que Heidegger tenha se precipitado imediatamente no estudo da metafísica aristotélica. Em vez disso, foi à sombra majestosa das Recherches logiques de Husserl, descobertas em 1909, quando ele ainda era estudante de teologia, que Heidegger realizou sua formação filosófica, sob a orientação de um dos mestres da escola neokantiana em Baden, Heinrich Rickert. Com Husserl e os neokantianos, ele compartilhou a grande luta contra o psicologismo, como o título de sua tese de doutorado, intitulada La doctrine du jugement dans le psychologisme. Uma contribuição de crítica positiva à lógica (1913) (GA1, 3-129). O objetivo dessa crítica é claro: ao reduzir a lógica ao psíquico, o psicologismo é incapaz de compreender a verdadeira natureza das significações lógicas, que possuem uma validade que transcende a contingência psíquica do sujeito que de fato realiza o ato de julgamento. Se o psicologismo ignora a realidade autônoma do objeto lógico (GA1, 103), ele só será derrotado se conseguirmos definir uma “doutrina de julgamento propriamente lógica” (GA1, 107), que homologue totalmente a equação: sentido = validade (Das Urteil der Logik ist Sinn, GA1, 114).