Greisch (1994:§41) – Sorge – Besorgen – Fürsorge

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Heidegger quer fazer reconhecer a cura como uma “estrutura apriorico-existencial” (SZ 193) que precede toda distinção do teórico e do prático e toda psicologia das faculdades. A “teoria” da cura não deve sobretudo ser posta a reboque de uma teoria da vontade, das pulsões ou do desejo! Com efeito, todos estes campos psíquicos “estão enraizados por uma necessidade ontológica no Dasein como cura, que, ele, é ontologicamente anterior a todos estes fenômenos” (SZ 194). Se se quer precisar a significação existencial deste auto-desenvolvimento, se dirá todavia que a todo momento o Dasein corre atrás do que não possui ainda e do que busca alcançar, de sorte que a facticidade existencial se manifesta tanto como “indigência” (Darben, Darbung), como falta e privação (Entbehrung) e necessidade (Bedürfen) (GA20, 407). Mas estaremos errados de pensar que o Dasein, se faz de cura porque está em necessidade, pois só um ente cujo ser é a cura pode experienciar a falta, a privação e a necessidade.

(…)

Heidegger ele mesmo esboça a princípio rapidamente algumas linhas possíveis de desenvolvimento:

– a linha de uma filosofia da vontade. Longe de ser derivada do querer (ver da “vontade de poder”), a crua decide da constituição ontológica deste (querer), do qual é a condição de possibilidade: “no fen6omeno do querer atravessa a totalidade subjacente da cura” (SZ 194);

– a linha de uma filosofia do aspirar (Wünschen) ou do desejo. Ontologicamente falando, a “cura” está concernida por “possibilidades”. O ser do Dasein é um ser para o “poder-ser”, um “ser para as possibilidades” (Sein zu den Möglichkeiten, SZ 195). Ora, posso seja me velar os olhos diante destas possibilidades, devir “cego ao possível”, em me submetendo a um real factual que faz a lei; seja me evadir no mundo imaginário de meus sonhos e de meus fantasmas, para aí me construir um mundo imaginário (Wünschwelt) que não é senão o reflexo de meus desejos. Em um e outro caso esquece-se que “o aspirar pressupõe ontologicamente a cura” (SZ 195);

– a linha de uma “filosofia da vida” que se deixa guiar pelos fenômenos da “impulsão” (Drang) e do “pendor” (Hang), duas noções que, desde 1920, fizeram sua aparição na hermenêutica da facticidade.

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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