Greisch (1994:§40) – Angústia [Angst]

As duas perguntas retóricas com as quais o parágrafo se abre lançam um desafio que toda análise subsequente buscará enfrentar: a angústia é um “afeto insigne” precisamente na medida em que nela (e somente nela), “o Dasein é transportado por seu próprio ser diante de si mesmo” (SZ 184). Assim, a angústia nos leva de volta à problemática da ipseidade que a análise da decadência cotidiana se havia – e por uma boa razão! – perdido de vista. Este seria o poder “revelador” ou “descobridor” desse afeto: ele rompe o movimento de fuga diante de si mesmo e diante de suas possibilidades mais próprias (Flucht des Daseins vor ihm selbst als eigentlichem Selbst-sein-können, SZ 184) do Dasein que se abandonou ao mundo e ao Impessoal. Em angústia, sinto que “as coisas deram errado”, por exemplo, que meu ativismo frenético não está levando a lugar algum, porque não passa de uma fuga e um escape: “A fuga do Dasein é uma fuga de si mesmo” (SZ 184). O inimigo do qual procuro fugir eu carrego comigo: é o meu próprio si. Obviamente, a fuga não pode ser compensada por um movimento de “autorreflexão”, ou mesmo por uma introspecção adicional. Nada prova melhor a futilidade desses processos de “auto-apreensão artificial do Dasein” (SZ 185) do que a própria experiência da angústia. O esforço de autorreflexão permanece sob o signo do poder, enquanto a autocompreensão, ancorada na experiência da angústia, está sob o signo da impotência: “Não aguento mais”. A angústia é um fenômeno original na medida em que põe a nu as próprias raízes do ser do Dasein.

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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