(JGOT)
Tudo começa com, e tudo depende da neutralidade fundamental que caracteriza a própria noção de Dasein, em contraste com a noção de homem. Esse primeiro aspecto da neutralidade pode ser designado como “neutralidade antropológica”, uma vez que toda antropologia, seja ela científica, teológica ou mesmo filosófica, já pressupõe a adoção de uma ideia determinada do homem. Mas é importante notar o caráter paradoxal dessa neutralidade que Heidegger reivindica para o Dasein: justamente porque ela não implica nenhuma opção antropológica particular, não se trata de uma neutralidade por exclusão, ou de uma neutralidade de indiferença. Na verdade, ela não anula, nem poderia “neutralizar” a própria definição do Dasein, que o caracteriza como o ente para quem, em sua existência, está em jogo o seu ser. Daí a conclusão paradoxal de que o termo Dasein designa o ente “para quem seu próprio modo de ser não é indiferente (ungleichgültig) em um sentido determinado” (GA26, 171).