Gadamer (VM): Poética

A dependência do ser estético quanto à representação não significa, pois, uma carência ou uma falta de autodeterminidade autônoma. É parte integrante de seu ser próprio. O espectador é um momento da essência do próprio espetáculo, que denominamos de estético. Lembramos aqui da famosa definição da tragédia que encontramos na Poética de Aristóteles. Ali, na definição da essência da tragédia, está co-incluída expressamente a disposição do espectador. VERDADE E MÉTODO PRIMEIRA PARTE 2.

Numa análise mais precisa, vemos que aqui se esgrimem as metáforas conceituais clássicas da retórica contra a submissão dogmática da Escritura sob a autoridade magisterial da Igreja. Flacius apresenta o scopus como a cabeça ou o rosto do texto que se (287) manifesta às vezes já no título, mas que aflora sobretudo nas linhas-mestras da exposição do pensamento. Desse modo assume e elabora a antiga perspectiva retórica da dispositio. Há que se olhar com cuidado onde, para usar essa imagem, está a cabeça, o peito, as mãos ou os pés, e como os distintos membros e partes se conjugam com o todo. Flacius chega a falar de uma “anatomia” do texto. Aqui está o Platão mais autêntico. Em lugar da mera justaposição de palavras e frases, cada discurso deve organizar-se como um ser vivo, deve ter seu próprio corpo, de modo que não lhes faltem a cabeça nem os pés, mas que os membros centrais e as extremidades se relacionem entre si em boa harmonia e remetam à totalidade. É isso o que diz o Fedro (264 c). Também Aristóteles segue esse esquema conceitual retórico quando em sua Poética descreve a construção de uma tragédia: hosper zoon hen holon. A expressão “isso não tem pés nem cabeça” pertence a essa mesma tradição. VERDADE E METODO II OUTROS 20.

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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