Embora ambos os conceitos, símbolo e alegoria, pertençam a esferas diferentes, estão um próximo do outro, não somente através de sua estrutura comum da representação de algo através de um outro, mas também pelo fato de que ambos encontram sua aplicação preferencial no âmbito religioso. A alegoria surge da necessidade teológica de eliminar o escândalo na tradição religiosa — como se fez originariamente em Homero, e, ademais, reconhecer por trás disso verdades válidas. Uma função correspondente ganha a alegoria no uso retórico, ou seja, por onde quer que a circunlocução e o enunciado indireto possam parecer mais convenientes. Nas proximidades desse conceito da alegoria, retórico-hermenêutico, começa a surgir também o conceito de símbolo (que, ao que parece, foi documentado pela primeira vez por Chrysipp, mas com o significado de alegoria), principalmente através da transformação cristã do neoplatonismo. Pseudo-Dionísio fundamenta, logo na abertura de sua obra principal, a necessidade de se proceder simbolicamente (symbolikos), a partir da inconveniência (Unangemessenheit) da existência supra-sensorial de Deus para nosso espírito acostumado ao sensorial. E por isso que, aqui, symbolon recebe uma função anagógica, conduzindo-nos para o alto, para o conhecimento do divino — tal qual o discurso alegórico conduz a um significado “mais elevado”. O procedimento alegórico da interpretação e o procedimento simbólico do conhecimento têm o mesmo fundamento quanto à necessidade: não é possível reconhecer a divindade a não ser através do sensorial. VERDADE E MÉTODO PRIMEIRA PARTE 1.
Com esse conceito neoplatônico, Tomás procura descrever o caráter processual da palavra interior, tão bem como o mistério da trindade. Desse modo, convalida-se algo que não estava contido na filosofia platônica do logos. O conceito da emanação contém, no neoplatonismo, muito mais do que o que seria o fenômeno físico do fluir como processo de movimento. O que se introduz é, sobretudo, a imagem do manancial. No processo da emanação, aquilo de que algo emana, o um, não é nem despojado nem empequeñecido, pelo fato da emanação. Isso vale também para o nascimento do Filho a partir do Pai, o qual não consome com isso nada de si mesmo, mas assume algo de novo em si. Isso vale também para o surgimento (Hervorgehen) espiritual que se realiza no processo do pensar, do dizer-se. Este surgimento é ao mesmo tempo um perfeito permanecer em si. Se a relação divina de palavra e intelecto pode ser descrita de maneira que a palavra tenha sua origem no intelecto, mas não parcialmente e sim por inteiro (totaliter), do mesmo modo vale para nós que aqui uma palavra surge totaliter de outra, o que significa, porém, que tem sua origem no espírito, tal qual a consequência da conclusão, a partir das premissas (ut conclusio ex principiis). O processo e surgimento do pensar não é, pois, um processo de transformação (motus), não é uma transição da potência ao ato, mas um surgir ut actus ex actu: a palavra não se forma quando se vê concluído o conhecimento, falando em termos escolásticos, uma vez que a informação do intelecto é encerrada pela species, mas é a própria realização do conhecimento. Nessa medida a palavra é simultânea com essa formação (formatio) do intelecto. VERDADE E MÉTODO TERCEIRA PARTE 2.