Gadamer (1993:Prefácio) – Saúde não é algo que se possa fazer

Antônio Luz Costa

Foram sempre conjunturas especiais que me levaram a manifestar-me sobre os problemas dos cuidados com a saúde e da arte médica. Os resultados dessas manifestações estão reunidos neste pequeno volume. Não deve surpreender que um filósofo, que não é médico e nem se sente como paciente, participe da problemática geral que se coloca sobre aspectos do cuidado com a saúde na era da ciência e da técnica. Em nenhum outro lugar os progressos da pesquisa moderna adentram tanto o campo de tensão sociopolítico de nosso tempo como nessa área. A constatação de que há limites de mensurabilidade nos foi ensinada pela física do nosso século. A meu ver, isso também é objeto de um elevado interesse hermenêutico, o que se torna ainda mais válido quando se trata não apenas da natureza mensurável, mas de seres humanos vivos. Assim, os limites da mensurabilidade e, de forma geral, da exequibilidade, penetram profundamente na área do cuidado com a saúde. Saúde não é algo que se possa fazer. Mas o que é saúde, então? Ela é um objeto de estudo científico na mesma medida em que se torna objeto para uma pessoa atingida por sua perturbação? O objetivo maior permanece sendo tornar-se novamente sadio e, com isso, esquecer que se está sadio.

Contudo, os domínios da ciência sempre penetram na vida das pessoas e, quando se trata da aplicação do conhecimento científico à própria saúde, a pessoa, então, não se torna objeto somente da perspectiva científica. Nesse caso, cada um tem suas experiências e costumes. Isso vale especialmente para as ainda controversas áreas periféricas da própria ciência médica, a psicossomática, a homeopatia, as assim chamadas técnicas naturais de cura, a higiene, a indústria farmacêutica e para todos os aspectos ecológicos da saúde. Isso vale igualmente para o tratamento médico e pensão de aposentadoria da população. O custo, aumentando cada vez mais, impõe, com extrema urgência, que o cuidado com a saúde seja novamente reconhecido e percebido como uma tarefa geral da própria população.

Marianne Dautrey

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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