GA9:313 – a linguagem é a morada do ser

Giachini & Stein

Em sentido próprio, só pode ser levado a cabo, portanto, aquilo que já é. Mas o que “é”, antes de tudo, é o ser. O pensamento leva a cabo a relação entre o ser e a essência do homem. Ele não faz, nem produz essa relação. O pensamento se limita a oferecê-la ao ser como aquilo que a ele próprio foi doado pelo ser. Esse oferecer consiste no fato de o ser vir à linguagem no pensar. A linguagem é a morada do ser. Na habitação da linguagem mora o homem. Os pensadores e os poetas são os guardiões dessa morada. Sua vigília consiste em levar a cabo a manifestação do ser, na medida em que, por seu dizer, a levam à linguagem e nela a custodiam. (p. 327)

Carneiro Leão

Por isso, em sentido próprio, só pode ser con-sumado o que já é. Ora, o que é, antes de tudo, é o Ser. O pensamento con-suma a referência 1 do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser, como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. Essa restituição consiste em que, no pensamento, o Ser se torna linguagem 2. A linguagem é a casa do Ser. Em sua habitação 3 mora o homem. Os pensadores e poetas lhe servem de vigias. Sua vigília é con-sumar a manifestação 4 do Ser, porquanto, por seu dizer, a tornam linguagem e a conservam na linguagem. (1995, p. 24)

Original

Vollbringbar ist deshalb eigentlich nur das, was schon ist. Was jedoch vor allem »ist«, ist das Sein. Das Denken vollbringt den Bezug des Seins zum Wesen des Menschen. Es macht und bewirkt diesen. Bezug nicht. Das Denken bringt ihn nur als das, was ihm selbst vom Sein übergeben ist, dem Sein dar. Dieses Darbringen besteht darin, daß im Denken das Sein zur Sprache kommt. Die Sprache ist das Haus des Seins. In ihrer Behausung wohnt der Mensch. Die Denkenden und Dichtenden sind die Wächter dieser Behausung. Ihr Wachen ist das Vollbringen der Offenbarkeit des Seins, insofern sie diese durch ihr Sagen zur Sprache bringen und in der Sprache aufbewahren. (p. 313)

  1. NT: Re-ferência = Bezug: veja-se Martin Heidegger, Introdução à Metafísica, 1. c., pg. 99, Nota 21.[]
  2. NT: tornar-se linguagem — zur Sprache kommen: Essa expressão alemã (literalmente — vir, chegar à linguagem), significa no uso corrente: pôr à discussão. Heidegger, porém, a emprega na sua acepção etimológica de chegar, i.é., tornar-se linguagem.[]
  3. NT: Habitação Behausung: Em alemão casa é das Haus. Dai se formou o verbo, hausen, que exprime a função exercida pela casa, que é dar abrigo, prestar morada e habitação. O substantivo do texto é constituído por um verbo derivado de hausen, a saber be-hausen.[]
  4. NT: Manifestação = Offenbarkeit: compõe-se de offen (aberto) e do sufixo bar, que diz a qualidade do que está aberto, manifesto, patente. Do adjetivo offenbar (manifesto) se formou o substantivo, Offenbarkeit (manifestação).[]