A ressonância do seer como a ressonância da recusa. A conexão de jogo da pergunta sobre o seer. A conexão de jogo é inicialmente conexão de jogo do primeiro início, para que este coloque em jogo o outro início e cresça a partir dessa alternância no jogo a preparação do salto. O salto no seer. O salto projeta o abismo do esfacelamento e assim pela primeira vez a necessidade da FUNDAÇÃO DO SER-AÍ destinado a partir do seer. A fundação da verdade como a fundação da verdade do seer (o ser-aí). (tr. Casanova; GA65: 3)
No ser-aí e enquanto ser-aí acontece apropriadoramente para o seer a verdade, que ele mesmo revela como a recusa, como aquela região do aceno e da subtração – do silêncio – nos quais se decidem pela primeira vez a chegada e a fuga do último deus. O homem não consegue realizar nada para tanto e é quando a preparação da FUNDAÇÃO DO SER-AÍ lhe é entregue como tarefa que ele se encontra menos em condições de tal realização, de tal modo que essa tarefa determina inicialmente uma vez mais a essência do homem. (tr. Casanova; GA65: 5)
O acontecimento apropriador é o entre no que concerne ao passar ao largo do deus e à história do homem. Mas não o campo intermediário indiferente. Ao contrário, a referência ao passar ao largo é a abertura usada por deus do dilaceramento em meio a um fosso abissal; por outro lado, a referência ao homem é o deixar emergir que se apropria em meio ao acontecimento da FUNDAÇÃO DO SER-AÍ e, com isto, da necessidade do abrigo da verdade do seer no ente como de uma restituição do ente. (tr. Casanova; GA65: 7)
A fuga dos deuses precisa ser experimentada e suportada. Essa constância funda a proximidade mais distante possível do acontecimento apropriador. Esse acontecimento apropriador é a verdade do seer. Nessa verdade abre-se pela primeira vez a indigência do abandono do ser. A partir dessa indigência, a fundação da verdade do ser e a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ se tornam necessárias. Essa necessidade realiza-se na decisão constante, que atravessa de maneira dominante todo ser humano histórico: quer o homem seja futuramente alguém pertencente à verdade do ser e, assim, alguém que abriga a partir dessa copertinência e para ela a verdade como verdadeiro no ente, ou quer o começo do último homem expulse o homem para o interior da animalidade dissimulada e permaneça recusado para o homem histórico o último deus. O que acontecerá se a luta pelos critérios de medida tiver se extinguido, se o mesmo querer não quiser mais nenhuma grandeza, isto é, não apresentar mais nenhuma vontade da maior diversidade dos caminhos? (tr. Casanova; GA65: 8)
No outro início pensa-se de antemão aquele totalmente outro, que foi denominado o âmbito da decisão, no qual se conquista ou se perde o seer histórico propriamente dito dos povos. Esse ser – a historicidade – não é nunca o mesmo em toda e qualquer era. Ele se encontra agora diante de uma mudança essencial, na medida em que ele tem como tarefa fundar aquele âmbito da decisão, aquele nexo do acontecimento apropriador, graças ao qual um ente histórico humano traz a si mesmo pela primeira vez para si mesmo. A fundação desse âmbito exige uma renúncia que é o contrário da tarefa de si. Ela só pode ser levada a termo a partir da coragem do a-bismo. Esse âmbito, se é que tal caracterização é em geral suficiente, é o ser-aí, aquele espaço intermediário, que, fundando pela primeira vez a si mesmo, confronta e defronta o homem e o deus um em relação ao outro, tornando-os próprios um ao outro. O que se abre na FUNDAÇÃO DO SER-AÍ é o acontecimento apropriador. Com isto, não se tem em vista um “em face de”, algo intuível e uma “ideia”, mas o acenar de lá pra cá e o manter-se na mobilidade para cá no aberto do aí, que é justamente o ponto de virada clareador e encobridor nesta viragem. Essa viragem só conquista sua verdade, na medida em que ela é contestada enquanto contenda entre mundo e terra e, assim, em que o verdadeiro é coberto no ente. Só a história, que se funda no ser-aí, tem a garantia de uma copertinência à verdade do ser. (tr. Casanova; GA65: 8)
Tonalidade afetiva é aqui visada no sentido insistente: a unidade da exportação resolutora de todo fascínio, assim como do projeto e do registro de todo êxtase e de toda insistência e realização da verdade do ser. Toda e qualquer representação diversa e “psicológica” da “tonalidade afetiva” precisa ser posta de lado aqui. Por isto, a tonalidade afetiva nunca pode ser simplesmente o como, que acompanha, ilumina e sombreia todo fazer e deixar de fazer do homem, fazer e deixar de fazer esses que já estariam fixados. Ao contrário, é só por meio da tonalidade afetiva que a extensão do êxtase do ser-aí é mensurada e a simplicidade do fascínio atribuída, na medida em que se trata da retenção como tonalidade afetiva fundamental. Ela é a tonalidade afetiva fundamental, porque ela afina a sondagem do fundamento do ser-aí, do acontecimento apropriador, e, com isto, a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ. (tr. Casanova; GA65: 13)
Só quem concebe o fato de que o homem precisa fundar historicamente a sua essência por meio da FUNDAÇÃO DO SER-AÍ, o fato de que a insistência da pendência do ser-aí não é outra coisa senão a moradia no tempo-espaço daquele acontecimento, que acontece apropriadoramente como a fuga dos deuses; só quem recolhe de maneira criadora a consternação e a animação do acontecimento apropriador na retenção como tonalidade afetiva fundamental, consegue pressentir a essência do ser e preparar em tal meditação a verdade para o futuro verdadeiro. (tr. Casanova; GA65: 19)
Repousar significa dizer que o questionamento se acha em meio ao mais extremo âmbito de oscilação, em meio ao pertencimento ao acontecimento mais extremo, que é a viragem no acontecimento apropriador. O encontrar-se acontece no salto, que se desdobra como FUNDAÇÃO DO SER-AÍ. (tr. Casanova; GA65: 22)
A meditação do pensar inicial é muito mais tão originária que ela pergunta primeiramente como é que o si mesmo precisaria ser fundamentado, o si mesmo em cujo âmbito “nós”, eu e tu, chegamos sempre a cada vez a nós mesmos. Assim, é questionável se encontramos por meio da reflexão sobre “nós” a nós mesmos, se encontramos o nosso si mesmo, e se, por conseguinte, o projeto do ser-aí em geral tem algo em comum com a clarificação da “auto”-consciência. Pois bem, não está de modo algum definido que o “si mesmo” seria determinável algum dia pela via que passa pela representação do eu. Ao contrário, é preciso reconhecer que a ipseidade só emerge da FUNDAÇÃO DO SER-AÍ, mas que essa fundação se realiza como acontecimento da apropriação do que pertence à conclamação. Com isto, emerge a abertura e a fundação do si mesmo a partir da e como a verdade do seer. Não a decomposição diversamente dirigida da essência do homem, não a indicação de outros modos de ser do homem – tudo considerado por si como antropologia aprimorada – é o que produz aqui a auto-meditação, mas é a questão acerca da verdade do ser que prepara o âmbito da ipseidade, na qual, atuando historicamente e agindo, o homem – nós –, assumindo a figura do povo, chega ao seu si mesmo. (tr. Casanova; GA65: 30)
O salto abre de antemão as amplitudes e os encobrimentos não revisados daquilo para onde a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ, pertencente ao clamor do acontecimento apropriador, precisa avançar. (tr. Casanova; GA65: 39)
Ser usado pelos deuses, por meio de tal elevação ser esmagado, na direção desse velado precisamos inquirir a essência do seer enquanto tal. Nós não podemos, então, porém, explicar o seer como o aparentemente ulterior, mas precisamos concebê-lo como a origem, que de-cide e se apropria em meio ao acontecimento pela primeira vez dos deuses e do homem. Essa inquirição do seer leva a termo a abertura do campo de jogo temporal de sua essenciação: a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ. (tr. Casanova; GA65: 43)
A ressonância do seer quer resgatar o seer em sua plena essenciação como acontecimento apropriador por meio do desentranhamento do abandono do ser, o que só acontece de tal modo que o ente é recolocado por meio da FUNDAÇÃO DO SER-AÍ no seer que se abre no salto. (tr. Casanova; GA65: 55)
Se a “metafísica” se torna visível como o acontecimento que pertence ao ser-aí enquanto tal, então isso não deve ser considerado como uma ancoragem “antropológica” muito módica da disciplina da metafísica no homem, mas, juntamente com o ser-aí, conquista-se aquela base, na qual a verdade do seer se funda, de tal modo que, agora, o seer mesmo passou a se mostrar como originariamente dominante e um posicionamento da excedência do ente, o que significa, porém, do sair do ente e, em verdade, como ente presente à vista e como objeto, se tornou impossível. Assim, vem à tona pela primeira vez o que era a metafísica, justamente essa excedência do ente em direção à entidade (ideia). Inevitavelmente ambíguo, contudo, permanece essa determinação da “metafísica”, na medida em que as coisas se mostram de tal modo, como se a metafísica fosse apenas uma outra concepção atual do conceito até aqui, uma concepção que não tocaria em nada na coisa mesma. Ela só é uma tal concepção, porém, na medida em que a concepção da essência da “metafísica” se torna de antemão inteiramente uma FUNDAÇÃO DO SER-AÍ, vedando à “metafísica” todo e qualquer caminho para uma outra possibilidade. Conceber de maneira transitoriamente pensante significa: transpor o concebido para o interior de sua impossibilidade. Será que ainda é necessário proteger expressamente essa defesa da “metafísica” diante da mistura com a tendência “antimetafísica” do “positivismo” (e de suas variantes)? Muito pouco de fato, logo que levamos em conta o fato de que o “positivismo” apresenta, sim, o mais tosco de todos os modos “metafísicos” de pensamento, na medida em que ele contém por um lado uma decisão completamente determinada sobre a entidade do ente (sensibilidade) e, por outro lado, ultrapassa de maneira constante justamente esse ente por meio do estabelecimento principial de uma “causalidade” do mesmo tipo. Para o pensar transitório, porém, não se trata de uma “hostilidade” em relação à “metafísica”, hostilidade essa por meio da qual ela seria colocada de novo precisamente em posição, mas de uma superação da metafísica a partir de seu fundamento. A metafísica chegou ao fim. Não porque ela questionou demais, de maneira não crítica demais, de modo extravagante demais a entidade do ente, mas porque, de acordo com a queda do primeiro início, o seer no fundo buscado nunca teve como ser questionado com essa questão e, por fim, decaiu, em meio ao impasse dessa impotência, na “renovação” da “ontologia”. (tr. Casanova; GA65: 85)
No outro inicio, a verdade do seer precisa ser ousada como fundação, como o repensar do ser-aí. Somente no ser-aí, aquela verdade é fundada para o seer, a verdade na qual todo ente é apenas em virtude do seer, que reluz como rastro do caminho do último deus. Por meio da FUNDAÇÃO DO SER-AÍ transforma-se o homem (o que procura, o que guarda, o guardião). Essa transformação cria o espaço das outras necessidades da decisão sobre proximidade e distância dos deuses. (tr. Casanova; GA65: 117)
O “tempo” como temporialidade, o que se tem em vista é a unidade originária do arrebatamento extasiante marcado por clareira e por encobrimento, oferece o fundamento mais próximo para a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ. Com esse estabelecimento, a forma até aqui de resposta não deve ser, por exemplo, mantida, sim, nem mesmo substituída, ou seja, ao invés das “ideias” ou de sua desaprovação no século 19, ao invés dos “valores” não devem ser posicionados outros “valores” ou não deve ser posicionado valor nenhum. Ao contrário, o “tempo” aqui e, de maneira correspondente, tudo aquilo que é concebido sob o título “existência”, possui um significado completamente diverso, a saber, o significado da fundação dos sítios abertos da instantaneidade para um ser histórico do homem. Como todas as decisões até aqui não se mostram mais no âmbito das “ideias” ou do “ideal” (“visões de mundo”, ideias de cultura e coisas do gênero) como decisões, porque elas não colocam mais de maneira alguma em questão o seu espaço de decisão e ainda menos a verdade mesma enquanto verdade do seer, é preciso antes de tudo dirigir a meditação para a fundação de um espaço de decisão, isto é, a indigência da falta de indigência precisa ser primeiro experimentada, o abandono do ser. No entanto, onde quer que, no sentido até aqui, ainda que com tomadas de empréstimo externas junto à “filosofia da existência”, tudo permanece no âmbito da “cultura”, da “ideia”, do “valor” e do “sentido”, aí, visto em termos da história do ser e a partir do pensamento inicial, o abandono do ser é uma vez mais solidificado e a falta de indigência é por assim dizer elevada ao nível de princípio fundamental. (tr. Casanova; GA65: 119)
Apesar disso, tal como já acontecia com os gregos, o pensar (logos – formas do juízo – categorias – razão) mantém junto a ele a primazia na fixação do círculo de visão da interpretação do ente enquanto tal. Além disso, de acordo com o processo cartesiano, o pensar enquanto “pensar” chega a alcançar o domínio, e o ente mesmo se torna, em consonância com o mesmo fundamento histórico, o perceptum (representado), o objeto. Por isso, não há como chegar a uma FUNDAÇÃO DO SER-AÍ, isto é, a questão acerca da verdade do seer é aqui inquestionável. (tr. Casanova; GA65: 134)
O que deve ser a técnica? Não no sentido de um ideal, mas como ela se encontra no interior da necessidade de superar o abandono do ser ou de colocá-lo em decisão de maneira fundamental? Ela é o caminho histórico para o fim, para a recaída do último homem no animal tecnicizado, que perde, com isso, até mesmo a animalidade originária do animal introduzido, ou será que ela pode, assumida de antemão como abrigo, ser inserida na FUNDAÇÃO DO SER-AÍ? E, assim, a decisão para qualquer tipo de abrigo permanece poupada de nós por um instante, assim como aquilo junto ao que passamos ao largo e simplesmente perecemos. (tr. Casanova; GA65: 152)
(ser-aí) O fundamento que se essencia na fundação do ser humano por vir. O ser-aí – o cuidado. O homem nesse fundamento do ser-aí: 1) O que busca o seer (acontecimento apropriador); 2) O que guarda a verdade do ser; 3) O guardião do silêncio do passar ao largo do último deus. Silêncio e origem da palavra. De início, porém, a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ está transitoriamente à busca, cuidado, temporalidade; temporalidade com vistas à temporialidade: como verdade do seer. O ser-aí está referido à verdade enquanto abertura do encobrir-se, ele é estabelecido pela compreensão de ser. Projetivamente, o aberto para o ser. Ser-aí como projeção da verdade do seer (“aí”). (tr. Casanova; GA65: 171)
Sondar o solo do fundamento da verdade do seer e, assim, esse ser mesmo: deixar esse fundamento (acontecimento apropriador) ser o fundamento, por meio da constância do ser-aí. De acordo com isso, a sondagem do solo fundamental se transforma na FUNDAÇÃO DO SER-AÍ como a sondagem do solo do fundamento: da verdade do seer. (tr. Casanova; GA65: 188)
Ser-aí é a persistência constante da essenciação da verdade do seer. Desdobramento da determinação do aí como FUNDAÇÃO DO SER-AÍ. O aí se essencia e, se essenciando, precisa ser assumido no ser do ser-aí; o “entre”. (tr. Casanova; GA65: 190)
Nenhum “nós” e “vós” e nenhum “eu” e “tu”, nenhuma comunidade é alcançada, erigindo-se a partir de si mesma, e jamais o si mesmo. Ao contrário, eles sempre o perdem de vista e permanecem excluídos do si mesmo, a não ser que a comunidade funde a si mesma primeiramente em função do ser-aí. Com a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ, toda relação com o ente é modificada, e a verdade do seer é anteriormente experimentada. (tr. Casanova; GA65: 198)
(A verdade) Como é que ela poderia ser para nós aquele derradeiro resíduo da decadência mais extrema da aletheia (idea) platônica, como é que a validade de correções poderia se mostrar em si como ideal, isto é, como a maior de todas as indiferenças e impotências? A verdade é, enquanto acontecimento apropriador do verdadeiro, a abertura do fosso abissal, abertura essa na qual o ente se divide e precisa se encontrar em meio à contenda. Verdade também não é para nós o fixado, aquele descendente suspeito de indiferenças em si. Ela também não é, contudo, o mero oposto, o tosco fluir e o permanecer fluido de todas as opiniões. Ela é o meio abissal, que estremece no passar ao largo do deus e, assim, o fundamento suportado para a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ criador. A verdade é a maior de todas as desprezadoras de tudo o que é “verdadeiro”, pois todo “verdadeiro” se esquece imediatamente da verdade, do atiçar seguro da simplicidade do único como o a cada vez essencial. (tr. Casanova; GA65: 208)
A tentativa de tal fundação e concepção é a denominação e o desdobramento do ser-aí. Isso só pode acontecer a partir do “homem”, e, nessa medida, os primeiros passos para a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ “do” homem, do ser-aí “no” homem, do homem no ser-aí são muito ambíguos e desamparados; e isso, sobretudo, se, como aconteceu até aqui, faltar toda e qualquer vontade de conceber o modo de questionamento desdobrado a partir de si e a partir de sua intenção fundamental em relação à verdade do seer, e se tudo for empregue apenas em reconduzir a e em explicar o decisivo com vistas ao que se tinha até aqui, afastando-o com isso. Por isto, mesmo o caminho da meditação sobre a correção e o fundamento de sua possibilidade é de imediato pouco convincente, porque as pessoas não conseguem se livrar das representações de uma coisa humana (sujeito – pessoa e coisas do gênero) e tudo é padronizado apenas como “vivências” do homem e essas vivências uma vez mais como ocorrências nele. (tr. Casanova; GA65: 214)
O encobrimento clareador se essencia como FUNDAÇÃO DO SER-AÍ; fundação, porém, é um termo ambíguo. (tr. Casanova; GA65: 219)
A FUNDAÇÃO DO SER-AÍ acontece como abrigo da verdade no verdadeiro, que só assim vem a ser. (tr. Casanova; GA65: 219)
Se aquela temporalização e aquela espacialização constituem a essência originária de tempo e espaço, então sua proveniência, abissal, fundadora do a-bismo, se tornou visível a partir da essência do ser. Tempo e espaço (originariamente) não “são”, mas se essenciam. Mas a renúncia hesitante mesma tem essa junção fugidia originariamente unificadora da autorrenúncia e da hesitação a partir do aceno. Esse aceno é o reabrir-se do que se encobre enquanto tal, e, em verdade, o reabrir-se para o e como o acontecimento da apropriação, como o clamor do pertencimento ao próprio acontecimento apropriador, isto é, à FUNDAÇÃO DO SER-AÍ como o âmbito de decisão para o seer. Mas esse aceno só chega a se dar na ressonância do seer a partir da indigência do abandono do ser e só diz uma vez mais: nem a partir do clamor, nem a partir de um pertencimento, mas apenas a partir do entre que atua de maneira vibrante sobre os dois é que se abre o acontecimento apropriador e se torna realizável o projeto da origem do tempo-espaço como unidade originária a partir do abismo do fundamento. Espaço é o a-bismo arrebatadoramente fascinante do repouso. Tempo é o a-bismo arrebatadoramente extasiante da reunião. O arrebatamento fascinante é repouso abissal da reunião. (tr. Casanova; GA65: 242)
O se valer mais intensamente dos serviços da técnica não desenvolve apenas essa técnica mesma, mas eleva seu poder em direção ao desmedido e incessante, se não for ainda maior e mais essencial a meditação sobre a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ como uma necessidade, que exige quietude e uma longa prontidão para o caráter repentino hesitante dos instantes. (tr. Casanova; GA65: 245)
(FUNDAÇÃO DO SER-AÍ e as vias do abrigo da verdade) Deduzida desse âmbito e, por isso, pertencente a ele, a questão isolada acerca da “origem da obra de arte”. A máquina e a maquinação (técnica). A máquina, sua essência. O serviço, que ela exige, o desenraizamento que ela traz. “Indústria” (funcionamento); os trabalhadores de indústria, arrancados da terra natal e da história, transpostos para o ganho. Educação de máquinas; a maquinação e o negócio. Que transformação do homem se insere aqui? (Mundo – terra?) Maquinação e negócio. O grande número, o gigantesco, pura extensão, nivelamento e esvaziamento crescentes. A decadência necessária no kitsch e no inautêntico. (tr. Casanova; GA65: 247)
O que é essa viragem originária no acontecimento apropriador? Apenas o acometimento do ser como acontecimento da apropriação do aí traz o ser-aí para ele mesmo e, assim, para a execução (abrigo) da verdade jurisdicionalmente fundada no ente, que encontra no encobrimento clareado do aí seu sítio. E na viragem: só a FUNDAÇÃO DO SER-AÍ, a preparação da prontidão para o arrebatamento extasiante e fascinante em meio à verdade do seer, traz o que é pertinente e dócil para o aceno do acontecimento da apropriação que acomete. (tr. Casanova; GA65: 255)
Aqui não acontece nenhuma re-denção, isto é, no fundo nenhuma humilhação do homem, mas a inserção da essência mais originária (FUNDAÇÃO DO SER-AÍ) no seer mesmo: o reconhecimento do pertencimento do homem ao seer por meio do deus, a admissão divina, que não esconde nada de si e de sua grandeza, de que necessita do seer. (tr. Casanova; GA65: 256)
1) A que pico devemos subir para que possamos visualizar livremente o homem em sua indigência essencial? Ao fato de sua essência ser para ele uma propriedade e, por isso, uma perda, e, em verdade, a partir da essenciação do seer. Por que tais picos são necessários e ao que eles visam? 2) O homem se desencaminhou de maneira obtusa no que é “apenas” ente ou ele foi impelido a isso pelo seer? Ou será que ele foi simplesmente pendurado pelo seer e entregue a um egoísmo? (Essas questões movimentam-se na diferenciação entre ser e ente). 3) O homem, o animal pensante, como fonte subsistente das paixões, impulsos, dos estabelecimentos de metas e valorações, dotado de um caráter etc. Esse elemento a qualquer momento constatável, que pode contar seguramente com a concordância de todos, sobretudo quando todos estão de acordo em não perguntar mais e não deixar ser senão aquilo que para cada um é: a) Como o que nós nos deparamos com o homem. b) O fato de que nós nos deparemos com ele. 4) O homem é o que retorna no livre lançamento (projeto jogado); nós precisamos compreender ser, quando… 5) O homem, o guardião da verdade do seer (FUNDAÇÃO DO SER-AÍ). 6) O homem, nem “sujeito”, nem “objeto” da “história”, mas apenas o ente mobilizado pelo vento da história (acontecimento apropriador) e arrastado concomitantemente para o interior do seer, pertencente ao seer. Clamor da urgência, assunção da responsabilidade em meio à guarda. 7) O homem como o estrangeiro no lance livre expelido, o estrangeiro que não retorna mais do abismo e mantém nessa estrangeiridade a vizinhança longínqua. (tr. Casanova; GA65: 272)
Linguagem, quer falada quer silenciada, a primeira e a mais ampla antropomorfização do ente. Assim o parece. Mas ela precisamente é a desantropologização mais originária do homem como ser vivo presente à vista e “sujeito” e como tudo até aqui. E, com isso, FUNDAÇÃO DO SER-AÍ e da possibilidade de desantropologização do ente. (tr. Casanova; GA65: 281)