finitude do ser

Endlichkeit des Seins

Como ideia é o conceito de mundo a representação de uma totalidade incondicionada. Contudo, não representa ele simples e “propriamente” o incondicionado, na medida em que a totalidade nele pensada, o objeto possível do conhecimento finito, permanece referida a fenômenos. Mundo como ideia é, na verdade, transcendente, ultrapassa os fenômenos, mas de tal maneira que como totalidade deles é a eles retro-referido. Transcendência, no sentido kantiano do ultrapassar da experiência é, porém, ambígua. De um lado, pode significar: ultrapassar, em meio à experiência, aquilo que nela é dado como tal, a multiplicidade dos fenômenos. Isto vale da representação “mundo”. De outro lado, porém, transcendência significa: sair da experiência como conhecimento finito em geral e representar a possível totalidade de todas as coisas como “objeto” do intuitus originarias. Nesta transcendência emerge o ideal transcendental, em face do qual mundo representa uma restrição e torna-se expressão do conhecimento finito humano em sua totalidade. O conceito de mundo está como que entre a “possibilidade da experiência” e o “ideal transcendental” e significa assim, em seu núcleo, a totalidade da finitude do ser humano. MHeidegger: SOBRE A ESSÊNCIA DO FUNDAMENTO


Se, entretanto, a transcendência, no sentido da liberdade para o fundamento, é, em primeira e última análise, compreendida como abismo, então se agudiza, por conseguinte, também a essência daquilo que foi denominado a ocupação do ser-aí no e pelo ente. O ser-aí – ainda que situado em meio ao ente e por ele perpassado pela disposição – está jogado como livre poder-ser entre os entes. O fato de ser, segundo a possibilidade, um mesmo e sê-lo em correspondência fática com sua liberdade; o fato de a transcendência se temporalizar como acontecer originário, não está no poder desta liberdade mesma. Tal impotência (derelicção), porém, não é primeiro o resultado da invasão do ser-aí pelo ente, mas ela determina o ser do ser-aí como tal. Todo projeto de mundo é, por isso, jogado. A explicitação da essência da finitude do ser-aí a partir de sua constituição ontológica deve preceder a toda base “óbvia” da “natureza” finita do homem, a toda descrição de qualidades que somente são conseqüências da finitude, e, por último, a todos os “esclarecimentos” sobre a origem ôntica da mesma. MHeidegger: SOBRE A ESSÊNCIA DO FUNDAMENTO


Da finitude do ser foi primeiro falado no livro sobre Kant. A finitude do Ereignis, a que se fez referência durante um seminário, a finitude do ser, da quaternidade, distingue-se, porém, daquela, na medida em que não é mais pensada a partir da relação com a infinitude, mas como finitude em si mesma: finitude, fim, limite, aquilo que é próprio – o estar protegido dentro do que é próprio. Nesta direção – quer dizer, a partir do próprio Ereignis, a partir do conceito de propriedade – é pensado o novo conceito de finitude. MHeidegger: PROTOCOLO DO SEMINÁRIO SOBRE A CONFERÊNCIA “TEMPO E SER”