Ferreira da Silva (2010:243) — o errar [das Irren]

(…) A volta a si mesmo preconizada pelo Idealismo, como imersão na subjetividade, constitui, segundo esse novo ponto de vista, um aprofundar e desenvolver o disponível do Ente – o Ente como subjetividade – em total esquecimento das condições de possibilidades da própria revelação do Ente oferecido. Mas esse aferrar-se ao Ente oferecido, numa completa obnubilação do desvendamento fundador, é o que Heidegger denomina o errar (das Irren). Empolgado por aquilo que se lhe oferece e, ao mesmo tempo, tomado pelas possibilidades que determinam todo o horizonte do conhecido, o homem avança unicamente na dimensão dessas formas oferecidas, orgulhoso de abarcar a totalidade do real, não advertindo entretanto que o oferecido e propiciado como Ente não acontece sem a correlativa ocultação do oferecer original. A abertura proto-histórica do oferecer se oculta em favor das oportunidades e possibilidades particulares de um dado âmbito histórico-cultural. A estrutura ontológica do acontecer também encontra sua formulação numa particular determinação da existência que a condena não só ao transcender desvelador, como também ao subordinar-se às formas desveladas. Essa característica e, segundo a expressão de Heidegger, o aspecto “insistente” da existência: “O homem não somente ek-siste, mas ao mesmo tempo in-siste, isto é, enrijece naquilo que o Ente lhe proporciona, na medida em que esse (o Ente) lhe parece de si e em si manifesto”.

(FERREIRA DA SILVA, Vicente. Transcendência do Mundo. São Paulo : É Realizações, 2010)