Assim, o elemento filosófico não seria produzido por um simples procedimento ou por voluntarismo. O ato filosófico consistiria na descoberta de uma dupla estrutura inerente à nossa própria linguagem e compreensão. Heidegger fala de um acontecer sempre presente em nosso discurso que, ao mesmo tempo em que possibilitava o enunciado, nele se escondia como uma dimensão que o acompanhava de modo não explícito. A fenomenologia hermenêutica dedica-se a explicitar esse modo de conhecer do mundo, do ser-no-mundo, do Da-sein, sustentado pelo ser-em. Dele se alimenta toda a teoria do conhecimento.
Os equívocos e os conflitos de todo o conhecimento resultam da absolutização da teoria do conhecimento pela razão de desconhecer esses níveis. O nível hermenêutico e o nível apofântico, o nível do mostrar interpretando e o nível do interpretar mostrando não se excluem. Mas em geral queremos reduzir todo o conhecimento pelo mostrar por meio da interpretação lógica.
(Ernildo Stein, Apresentação da obra: STRECK, Lenio. Verdade e Consenso. Rio de Janeiro: Saraiva, 2011, p. 23)