enquanto ser-aí

Se algum dia uma história nos for ainda uma vez comunicada, a exposição criadora ao ente a partir do pertencimento ao ser, então é indispensável a determinação: preparar o tempo-espaço da última decisão – se e como nós experimentamos e fundamos esse pertencimento. Nisso reside: de maneira pensante fundar o saber do acontecimento apropriador, por meio da fundação da essência da verdade ENQUANTO SER-AÍ. Como quer que a decisão sobre a historicidade e a falta de historicidade possa vir a ser tomada, os questionadores, que preparam de maneira pensante a decisão, precisam ser, cada um porta a solidão para o interior de sua maior hora. Que dizer realiza o mais elevado silenciamento pensante? Que procedimento efetua mais prontamente a meditação sobre o seer? O dizer da verdade; pois ele é o entre para a essenciação do seer e a entidade do ente. Esse entre funda a entidade do ente no seer. O seer, porém, não é algo “anterior” – subsistindo por si, em si –, mas o acontecimento apropriador é a coetaneidade tempo-espacial para o seer e o ente. [tr. Casanova; GA65: 5]

O pressentir abre a amplitude do encobrimento do que se encontra em uma relação de referência e talvez recusado. O pressentimento – visado em termos da tonalidade afetiva fundamental – não se remete de maneira alguma apenas, tal como acontece com o pressentimento habitual pensado em termos de cálculo, para aquilo que está por vir e para o que é apenas iminente, ele mensura transversalmente e avalia por meio de tal mensuração toda a temporalidade: o campo de jogo tempo-espacial do aí. O pressentir é a guarda que se funda de volta em si mesma do poder afinador, o abrigar hesitante e, de qualquer modo, que prepondera já sobre toda a incerteza da mera opinião, do desencobrimento do velado enquanto tal, da recusa. O pressentimento posiciona a in-sistência inicial no ser-aí. Ela é em si horror e entusiasmo ao mesmo tempo – contanto, sempre, que, enquanto tonalidade afetiva fundamental, ele afine e determine aqui de maneira afinadora o estremecimento do seer no ser-aí ENQUANTO SER-AÍ. [tr. Casanova; GA65: 6]

Se essa retenção ganha voz, o dito é sempre o acontecimento apropriador. Compreender esse dizer significa, contudo, levar a termo o projeto e o salto para o interior do acontecimento apropriador. O dizer funda enquanto silenciar. Sua palavra não é, por exemplo, apenas um sinal de algo completamente diverso. O que ele denomina é visado. Mas o “visar” só é próprio ENQUANTO SER-AÍ, o que significa dizer que ele só é próprio de maneira pensante no questionar. [tr. Casanova; GA65: 38]

O seer precisa do homem, para que ele se essencie, e o homem pertence ao seer, algo com vistas ao que ele consuma a sua mais extrema determinação ENQUANTO SER-AÍ. O seer, porém, não se torna com isso dependente de um outro, ainda que esse precisar constitua sua essência e não seja apenas uma consequência da essência? Como é que temos o direito de falar de de-pendência onde esse precisar recria precisamente o que é precisado em seu fundamento, dominando-o para o seu si mesmo. E como é que o homem, inversamente, pode colocar o seer sob a conformidade de sua mensagem, se ele precisa passar de qualquer modo a se dar por perdido junto ao ente, a fim de se tornar o apropriado em meio ao acontecimento e aquele que pertence ao seer. Esse impulso mútuo do precisar e do pertencer constitui o seer enquanto acontecimento apropriador, e alçar o impulso desse impulso mútuo para o interior da simplicidade do saber e fundá-lo em sua verdade é o primeiro que se oferece a nós de maneira pensante. [tr. Casanova; GA65: 133] [O projeto e o ser-aí] Ele é primeiro o entre, em cuja abertura o ente e a entidade são diferenciáveis; e isso de tal modo, com efeito, que só o ente mesmo (isto é, justamente velado, ele enquanto tal e, com isso, de acordo com a sua entidade) é de saída experimentável. A mera transição para a essência como idea desconhece o projeto do mesmo modo que o recurso à necessária dação prévia do “ente”. Como é, porém, que o projeto e sua essenciação ENQUANTO SER-AÍ permanecem encobertos pelo predomínio da re-presentação? Como a representação se transforma na relação sujeito-objeto e na “consciência” de que eu-represento? E como, em contrapartida, então, a vida é acentuada? Essa re-ação, por fim, em Nietzsche é a prova da não originariedade de seu questionamento. [tr. Casanova; GA65: 203]