Dufour-Kowalska (1996:17-18) – sensibilidade

O filósofo da Academia (Platão) inaugurou a tradição com uma série de três teses que se repetiriam com notável constância até ao século XX, até à fenomenologia de Husserl e dos seus discípulos, incluindo Merleau-Ponty. Elas podem ser resumidas em três proposições que definem, respectivamente, a gênese, a estrutura e a forma da sensibilidade:

1. a sensibilidade é definida com base na sensação; como tal, remete para o corpo;

2. a estrutura da sensação é essencialmente relacional e determina a nossa vida sensível como relativa ao mundo

3. a forma da sensação é o tempo, que governa soberanamente a nossa vida sensível.

Mas é precisamente à inversão desta tríplice tese que assistiremos quando chegarmos ao fim deste trabalho, ao discutirmos a filosofia de Michel Henry, que afirma sucessivamente a gênese interna da sensibilidade a partir da subjetividade (indivisivelmente (18) espiritual e corpórea), o seu carácter imanente e, por fim, a sua soberania sobre o tempo que, longe de a determinar, é gerado por ela e submetido às regulações internas da vida subjetiva.

(DUFOUR-KOWALSKA, G. L’art et la sensibilité: de Kant à Michel Henry. Paris: J. Vrin, 1996)