O conceito monista da essência (monismo-ontologico) implica uma noção definida da sua estrutura: submete-a à exterioridade. Esta é a forma que determina a região ontológica da consciência, quer seja interpretada pelo idealismo como a relação do conhecente com o conhecido, quer na ontologia contemporânea como a relação do existente com o ser. Para a filosofia da consciência, a estrutura fundamental da consciência é a relação. O trabalho do sujeito conhecedor consiste no desdobramento da distância ontológica que define o espaço em que o ente se pode manifestar. O sujeito é este desdobramento, esta abertura, este meio vazio de todo ente, porque é a pura possibilidade do seu aparecimento. É como espacialidade, como este “espaço vazio privado de determinabilidade”, que Hegel define a consciência 1. É também esta espacialidade originária que constitui o conteúdo do conceito de “mundo”, (36) pelo qual definiremos mais tarde a transcendência, o ambiente puro onde todo o ente se pode mostrar. Com a assimilação, por Heidegger, do sujeito, do próprio Dasein, ao fenômeno transcendental do mundo, a redução à exterioridade da estrutura fundamental da consciência e, dentro dela, da essência da manifestação, recebe um estatuto ontológico explícito e fica assim consumada. Comentando o pensamento de Heidegger, M. Henry escreve: “Em nós é que se encontra a verdade, no interior do homem… Mas a verdade que constitui a nossa própria interioridade é apenas a luz absoluta da exterioridade. A subjetividade humana é a transcendência do mundo” (MHEM, 109).
O “monismo ontológico (monismo-ontologico)” é o nosso horizonte de pensamento, revelando o caráter quase unidimensional da tradição filosófica de que ainda somos herdeiros, e o seu quase constante desconhecimento da outra dimensão da realidade, precisamente aquela a qual M. Henry pretende restituir os seus direitos: a dimensão imanente, a interioridade. A identificação da essência do sujeito com “a pura exterioridade da transcendência” (Ibid) não significa outra coisa senão a redução do sujeito ao objeto, da subjetividade do sujeito à objetividade do objeto, ou seja, a redução da subjetividade enquanto tal. Como puro princípio do objeto, o sujeito é privado de uma essência específica nesta função em que todo o seu ser se esgota. A transcendência instaura o reinado universal do ser do ente; como presença do objeto, é também a ausência do sujeito, desenha o espaço onde se esvazia a ausência de um ser-si substancial e vivo da subjetividade.
[DUFOUR-KOWALSKA, Gabrielle. Michel Henry. Un philosophe de la vie et de la praxis. Paris: Vrin, 1980]- Fenomenologia do Espírito, trans. J. Hyppolite, Aubier, Paris, 1939, I, p. 331, citado em MHEM, 108[↩]