(Derrida2001)
“Dizer o evento, é possível?” Então, à pergunta, o que quero responder é simplesmente “sim”. Não “sim” ao evento, “sim” dizer o evento é possível; quero dizer “sim” como um sinal de agradecimento, em primeiro lugar. A filosofia sempre se pensou a si mesma como arte, experiência, história da questão. Os filósofos, mesmo quando não concordam em nada, no final dizem: “sim, mas enfim, somos pessoas que fazemos perguntas; sejamos pelo menos concordes nisso, queremos salvar a chance da pergunta”. Isso começou com Platão até que, justamente, um certo Heidegger, mas também outros em nosso tempo, refletiram sobre o fato de que antes da pergunta — o “antes” aqui não é cronológico, é um “antes” anterior ao tempo —, que antes, portanto, da pergunta, havia uma possibilidade que era a de um certo “sim”, de um certo aquiescimento. Heidegger, à sua maneira, disse um dia, muito tarde em sua vida, que se ele havia dito anteriormente que o questionamento (Fragen) ou a pergunta (Frage) era a piedade do pensamento (Frömmigkeit des Denkens), bem, ele deveria ter dito, sem se contradizer, que “antes” da pergunta havia o que ele chama de aquiescimento (Zusage). Uma espécie de consentimento, de afirmação. Não a afirmação dogmática que resiste à pergunta. Mas “sim” para que uma pergunta se coloque, para que uma pergunta se dirija a alguém, para que eu fale com você, porque eu disse que, no fundo, estou aqui para falar com você, para dirigir a palavra a você, mesmo que seja para não dizer nada. Quando nos dirigimos a alguém, mesmo que seja para lhe fazer uma pergunta, é necessário, antes da pergunta, que haja um aquiescimento, a saber: “eu falo com você, sim, sim, bem-vindo, eu falo com você, eu estou aqui, você está aqui, olá!”. Esse “sim” antes da pergunta, de um “antes” que não é lógico ou cronológico, habita a própria pergunta, esse “sim” não é questionador. Há, portanto, no coração da pergunta, um certo “sim”, um “sim” a, um “sim” ao outro que talvez não esteja sem relação com um “sim” ao evento, ou seja, um “sim” ao que vem, ao deixar-vir. O evento é também o que vem, o que chega. Vamos falar muito hoje sobre o evento como o que vem ou o que acontece. Há um “sim” ao evento ou ao outro, ou ao evento como outro ou vinda do outro, sobre o qual podemos nos perguntar se justamente isso se diz, se esse “sim” se diz ou não. Há, então, entre todos os que falaram desse “sim” originário, Lévinas e Rosenzweig.