A implicação mútua de PDSA (“princípio da denominação do sujeito pelo acidente”) e de PSAPa (“princípio da su-jeição da ação na potência de um agente”) é a substância histórica das teses condensadas nas duas versões, francesa e inglesa, do termo menor do silogismo gramatical de Nietzsche, isto é:
m: toda ação supõe um sujeito que a realiza
m: every activity requires an agency that is active
Do complexo formado por PDSA, PSAPa e o conjunto dos princípios ou teoremas que eles comandam ou dos quais abrem a possibilidade teórica, pode-se de fato deduzir, como será o caso da Idade Média à modernidade, as seguintes proposições, que serão discutidas continuamente de um extremo a outro do nascimento do sujeito, a saber:
a. toda ação requer um agente
b. toda ação requer um sujeito
c. toda ação requer um agente que é um sujeito
a. toda ação requer um sujeito que é seu agente
Essas discussões seguirão as linhas desenhadas previamente pelas possibilidades de inferência de uma proposição na outra, no caso:
(1) o que é que autoriza (legitima, explica) a passagem de (a) a (b)?
(2) o que é que autoriza (legitima, explica) a passagem de (a)-(b) a (c)-(d)? (70)
A história do nascimento do sujeito moderno, de sua emergência e do encadeamento regrado de suas figuras até o momento presumidamente fundador da “reivindicação” pelo “eu” ou o “mim” do título exclusivo de “sujeito”, onde Heidegger vê a quintessência do cartesianismo, pode ser pensada em função da relação que se estabeleceu progressivamente entre as diversas formulações dos princípios (a), (b), (c) e (d), introduzidos da Idade Média à Segunda Escolástica, e aquelas, não menos diversas, que a noção de subiectum conheceu ao longo desse período.
(DE LIBERA, Alain. Arqueologia do Sujeito. Nascimento do Sujeito. Tr. Fátima Conceição Murad. São Paulo: Fap-Unifesp, 2013, p. 70-71)