Dastur (2017) – métodos terapêuticos

Dizer que este método é grego é dizer que é filosófico e que é ordenado por aquilo a que Husserl chamou nas Investigações Lógicas “o princípio da ausência de pressuposição”. O método cartesiano, por outro lado, é matemático: em vez de deixar que o que se mostra seja puramente presente, ele é medido por evidências matemáticas (GA89:ZS, 110). Quando Husserl, por exemplo em A Ideia da Fenomenologia, insiste na “dimensão totalmente nova da filosofia” em relação a todos os conhecimentos naturais, incluindo “as matemáticas mais rigorosas” (IP, 21), ele está, de certa forma, apenas a restaurar a famosa oposição platónica entre a matemática, que pode elevar-se acima das hipóteses, e a filosofia (a dialética) como a ciência do anhypotheton. Mas é preciso notar que, nos Seminários de Zollikon, o que não é diretamente visível é que, para Heidegger, a oposição essencial não é tanto entre Platão e Descartes como entre os Gregos e os Romanos. Boss é assim levado a considerar Freud (mais teórico do que prático) como “um descendente tardio do espírito romano” (!) porque para ele “os fenômenos só interessavam enquanto sinais de um jogo de forças” (Boss, Einführung in die psychosomatische Medizin, 6). O conceito de força, sem o qual a noção freudiana de psique não é pensável, provém da incapacidade romana “de representar uma coisa a não ser por um objeto nascido de uma operação dolorosa, de um esforço” e emana diretamente do seu “antropomorfismo da natureza” (ibid). Esta é, de fato, a hipótese da “dinâmica” freudiana.

(DASTUR, F. Questions of Phenomenology: Language, Alterity, Temporality, Finitude. Robert Vallier. New York: Fordham University Press, 2017)