As referências [Verweisung] determinam a estrutura do ser do manual enquanto instrumento. O “em si” próprio e evidente das “coisas” mais próximas encontram-se na ocupação que faz uso das coisas, embora sem tomá-las explicitamente, podendo deparar-se com o que não é passível de emprego. Um instrumento não pode ser empregado – isto significa: a referência constitutiva entre o ser para (Um-zu) e um ser para isso (Dazu) acha-se perturbada. No subordinar-se da ocupação às referências, elas não são consideradas em si, elas estão “pre-sentes por aí” [»da«]. Numa perturbação da referência – na impossibilidade de emprego para…, a referência se explicita, se bem que ainda não como estrutura ontológica, mas, onticamente, para a circunvisão, que se depara com o DANO do utensílio. A circunvisão desperta a referência a um específico ser para isso (Dazu), tornando assim visível não apenas tal ser, mas o contexto da obra, todo o “canteiro da obra” e, na verdade, como aquilo em que a ocupação sempre se detém. O conjunto instrumental não se evidencia como algo nunca visto e sim como um todo já sempre visto antecipadamente na circunvisão. Com esse todo, anuncia-se o mundo. STMSC: §16
Indicou-se a constituição instrumental do manual como referência. Como o mundo pode liberar em seu ser os entes dotados desse modo de ser? Por que esse ente é o que vem ao encontro em primeiro lugar? Consideramos a serventia, o DANO, a possibilidade de emprego, etc como referências determinadas. O para quê (Wozu) de uma serventia e o em quê (Wofür) de uma possibilidade de emprego delineiam a concreção possível da referência. A “ação de mostrar” do sinal, o “martelar” do martelo não são, contudo, propriedades dos entes. Não são propriedades em sentido algum, caso esse termo deva designar a estrutura ontológica de uma determinação possível de coisas. Em todo caso, o manual é apropriado ou não apropriado e, nessas apropriações, suas “propriedades” acham-se, por assim dizer, articuladas, do mesmo modo que o ser simplesmente dado, na qualidade de modo possível de ser de um manual na manualidade. Como constituição do instrumento, a serventia (referência) também não é o ser apropriado de um ente, mas a condição ontológica da possibilidade para que possa ser determinado por apropriações. O que diria, pois, nesse caso, referência? O ser do manual tem a estrutura da referência. Isso significa: ele possui em si mesmo o caráter de estar referido a. O ente se descobre enquanto referido a uma coisa como o ente que ele mesmo é. O ente tem com o ser que ele é algo junto. O caráter ontológico do manual é a conjuntura. Na conjuntura se diz: algo se deixa e faz junto a. É essa remissão de “com… junto…” que se pretende indicar com o termo referência. STMSC: §18
Algo que não pode ser empregado como, por exemplo, a falha de uma determinada ferramenta, só pode vir a surpreender num e para um manuseio. Mesmo a “percepção” e a “representação” mais detida e precisa de coisas não é capaz de descobrir o DANO de uma ferramenta. É preciso que o próprio afazer se veja perturbado para que possa vir ao encontro algo que não pode ser manuseado. Todavia, o que isto significa ontologicamente? No tocante a seu empenho nas remissões de um conjunto, a atualização que aguarda e retém se interrompe pelo que, posteriormente, se apresenta como DANO. A atualização que, de modo igualmente originário, aguarda o para quê se fixa com o instrumento usado de tal maneira que, somente então, o para quê e o ser-para vêm, explicitamente, ao encontro. A própria atualização, porém, só pode encontrar algo inapropriado para… na medida em que já se movimenta num reter que aguarda aquilo com que estabelece sua conjuntura. Dizer que a atualização se “interrompe” significa: na unidade com o aguardar que retém, ela se desloca ainda mais para dentro de si mesma, constituindo, assim, o “teste”, a prova e o afastamento do distúrbio. Se o modo de lidar da ocupação fosse meramente uma sequência de “vivências” que transcorrem “no tempo”, por mais “associadas” que fossem, do ponto de vista ontológico, seria impossível um encontro do instrumento que surpreende por não poder ser empregado. O deixar e fazer em conjunto que, no modo de lidar, torna acessíveis quaisquer nexos instrumentais, deve, como tal, fundar-se na unidade ekstática da atualização que aguarda e retém. STMSC: §69