ciência da natureza

Costuma-se caracterizar, de bom grado, a moderna ciência da natureza, em contraste com a medieval, dizendo que aquela nasceu e parte dos fatos e esta, de princípios universais e conceitos, com caráter especulativo. De certo modo, isto é verdadeiro. Mas é igualmente incontestável que a ciência medieval e a ciência antiga também observavam os fatos, tal como é incontestável que a moderna ciência também trabalha com princípios e conceitos gerais. De tal modo isto é assim, que recaiu sobre Galileu, um dos fundadores da moderna ciência, a mesma censura que ele próprio e os seus seguidores faziam à ciência escolástica. Diziam eles que esta era «abstrata», quer dizer, que se movimentava no meio de proposições e de princípios gerais. Simplesmente, a mesma acusação recaiu sobre Galileu, embora num sentido mais rigoroso e consciente. A oposição entre a antiga e a nova atitude científica não pode, por isso, ser estabelecida de tal modo que se diga: de um lado, conceitos e proposições teóricas, do outro, fatos. De ambos os lados, quer do lado da antiga, quer do lado da moderna ciência, encontramos as duas coisas, os fatos e os conceitos; mas o decisivo é o modo e o processo como os fatos são concebidos e os conceitos são avaliados.

A grandeza e a superioridade da ciência da natureza, nos séculos XVII e XVIII, reside no fato de todos aqueles investigadores serem filósofos; eles compreendiam que não há meros fatos, mas que um fato apenas é aquilo que é à luz de conceitos fundadores e de acordo com o alcance de tal fundamentação. [GA41]