Categoria: GA Temático
Extratos por temas e noções chaves das obras de Heidegger
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Na enumeração das ekstases, colocamos sempre em primeiro lugar o porvir. É para indicar que, na UNIDADE EKSTÁTICA da temporalidade originária e própria, o porvir possui uma primazia, embora a temporalidade não surja de um amontoado e de uma sequência de ekstases, temporalizando-se, cada vez, na igualdade originária de cada uma delas. Dentro da temporalidade,…
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A base da transcendência, o conteúdo fenomenológico original do horizonte da objetividade, a condição de todo o conhecimento, não é outra coisa senão o tempo. É o tempo, diz Heidegger, “que dá ao horizonte o carácter de uma abertura previamente circunscrita. Torna perceptível ao ser finito o carácter opositivo da objetividade, um carácter que pertence…
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Botmässigkeit Neste afastamento constitutivo do ser-com reside, porém: a presença (Dasein), enquanto convivência cotidiana, está sob a tutela dos outros. Não é ela mesma que é, os outros lhe tomam o ser. O arbítrio dos outros dispõe sobre as possibilidades cotidianas de ser da presença (Dasein). Mas os outros não estão determinados. Ao contrário, qualquer…
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Somente numa atitude artificial e complexa é que se pode “escutar” um “ruído puro”. Que escutamos primeiramente motocicletas e carros, isso constitui, porém, um testemunho fenomenal de que a presença (Dasein), enquanto ser-no-mundo, já sempre se detém junto ao que está à mão dentro do mundo e não junto a “sensações”, cujo TURBILHÃO tivesse de…
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durchsichtig Todo questionar é um buscar. Toda busca retira do que se busca a sua direção prévia. Questionar é buscar cientemente o ente naquilo que ele é e como ele é. A busca ciente pode transformar-se em “investigação” se o que se questiona for determinado de maneira libertadora. O questionar enquanto “questionar acerca de alguma…
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O desacordo fundamental entre a fenomenologia, tal como Husserl a quis legar àqueles que considerava seus discípulos, e a fenomenologia, tal como Heidegger pretendeu abri-la às possibilidades que nela existem, é a questão do solo, ou seja, a origem da subjetividade. Como nota J.-F. Courtine, “é a questão do solo (Boden) que é decisiva para…
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A principal conquista da fenomenologia é excluir tudo o que não se enquadra no domínio de imanência do eu puro e, em contrapartida, realçar o poder constitutivo do ego. O ego, sendo essencialmente intencional, contém em si a possibilidade de construção e significação de qualquer mundo. O objeto assenta estruturalmente numa multiplicidade de atos de…
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1) A fenomenologia existia antes do transcendentalismo husserliano e também depois — Heidegger, a ontologia, o pensamento do ser e do tempo, da “apropriação” finita (Ereignis). 2) A filosofia transcendental terá então de ser uma filosofia das condições de possibilidade do aparecer em geral, e não uma justificação do sujeito transcendental — tornar-se-á asubjectiva —,…
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Para Husserl, o homem é considerado de dois pontos de vista distintos: como consciência transcendental ou sujeito, não-ente constitutivo do ente; como existência factícia ou ente situado entre outros entes. A consciência transcendental dá razão ao ser do homem como existência factícia: ela é constituinte. Mas a posição de um sujeito constituinte é um dos…
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A questão inicial que se coloca ao jovem Heidegger, como explica no pequeno texto Mon chemin de pensée et la phénoménologie. A multiplicidade de sentidos de “ser” em Aristóteles, uma multiplicidade que não se resolve em nenhum sentido unitário, mesmo que surja contra o pano de fundo de um horizonte de mesmidade; entendamos : a…
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O tempo é o meio de preocupação (Sorge), o campo de presença e ausência da existência em vista de si mesma… Mas este em vista de si não implica necessariamente um projeto de totalização — como Hegel e Heidegger assumem na sua constituição da história e da historicidade. A preocupação heideggeriana, a inquietude das ideias…
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[…] O termo Vorhandenheit teria sido cunhado, naturalmente, para designar o modo de ser de tudo o que não é ser-aí, quer se trate das coisas, dos produtos da natureza, dos seres vivos em geral, dos animais ou mesmo dos deuses. O primeiro passo, para quem pretende elaborar uma ontologia fundamental — essa mesma ontologia…
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(…) uma situação paradoxal surge a partir da concepção heideggeriana da compreensão: nunca antes o conceito de compreensão foi filosoficamente tão central, pois nunca antes lhe foi atribuída uma significação ontológica e até mesmo “ontológico-fundamental”; a autocompreensão do ser-aí se transforma aqui no ponto crucial para a compreensão de ser em geral. Este emprego do…
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(…) De maneira diversa da filosofia prática de Aristóteles, a hermenêutica da facticidade heideggeriana (art180) não depende de nenhuma ontologia porque ela mesma é uma ontologia. “A problemática da filosofia”, assim encontra-se formulado no Relatório-Natorp, diz respeito ao “ser da vida fática” [GA62:364]. Este fato não pode ser compreendido no sentido de uma mera explicitação…
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(…) há também em Heidegger uma clara tendência henológica. Aquilo a que ele chamou “autenticidade” pode, de fato, enquadrar-se na velha tradição da interioridade. A palavra Eigentlichkeit, escreve ele, tem de ser tomada à letra, como referindo-se ao que é “meu próprio”, eigen. Significa que deixamos de nos perder ao fazer o que os outros…
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Poderíamos usar outro exemplo para ilustrar isso que Husserl intuiu (como Lebenswelt) e que se tornou tão problemático por causa do seu método e, depois, pelo seu encontro com Heidegger. Vejamos a expressão de Freud, na Psicanálise, Urverdrängung, o recalque originário ou recalque primário. O que é recalque originário?1 Freud, quando falou em recalque, viu-se…
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A forma específica de temporalidade do homem enquanto cuidado só se revela, plenamente, na morte: “o mundo do estar-aí se estrutura a partir do cuidado que tem uma forma específica de temporalidade que se manifesta na morte. Somente da morte compreende-se um poder-ser-to tal que, entretanto, nunca se realiza: ou ainda não somos totais, ou…
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As margens emocionais são internas a uma dada emoção ou externas em termos da sua relação com outros processos experienciais. As emoções parecem muitas vezes amorfas e sem nome; são famosamente fugazes, notoriamente difíceis de determinar, mudando continuamente de forma, direção e força — uma característica discutida no próximo capítulo como elasticidade. Foi uma dor…
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Heidegger analiza la culpa desde la triple perspectiva de la deuda (schulden, Schulden haben), la responsabilidad (schuld sein an) y la exigencia moral (sich schuldig machen, schuldig werden). Deuda. La comprensión cotidiana toma la expresión «ser culpable» (schuldig sein) primero en el sentido de «estar en deuda» (schulden), «tener cuentas pendientes con alguien», «deber restituir…
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A análise heideggeriana mostra que a nossa sensibilidade corporal não existe puramente “fisicamente”, que não tem necessidade de ser informada por formas conceituais; pelo contrário, está impregnada de compreensão e tonalidade afetiva. Os sentidos informam-nos apenas sobre o que, num certo sentido, já compreendemos. Mas tal formulação parece significar que os sentidos podem ser separados…