Categoria: Fenomenologia (Hermenêutica)
Fenomenologia, Hermenêutica e Fenomenologia Hermenêutica
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(RMAP:203-306) Comecemos então pelo mais simples. Não estamos sempre presentes a nós mesmos, longe disso. Deixemo-nos viver no esquecimento de nós mesmos, como costuma acontecer, e atentemos para o dado da presença do outro. O que se segue é uma descrição desse dado, ou seja, da empatia a parte objecti, ou do lado “noemático” de…
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(RMAP:209-213) Chegou o momento de examinar a percepção dos outros do lado “noético”. Uma das teses características da fenomenologia é que a experiência do outro é um ato “doador originário”. Uma pessoa nos é imediatamente dada (e não postulada, inferida, projetada) em sua realidade específica, em carne e osso. É justamente um outro eu em…
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(RMAP:214-217) Compreender uma personalidade que viveu em outros tempos através dos vestígios que restaram, por exemplo. Certamente, não é apenas a empatia que está em jogo nesse caso – há também um grande trabalho de hipóteses e indução. No entanto, se não houver uma espécie de intuição empática básica, talvez falte o essencial para a…
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(RMAP:225-226) […] Sem dúvida, há indivíduos que são dados à percepção. Como Jacques, Frédéric ou Théodore, que acabei de ver todos os três. No entanto, sua individualidade não é visível: vemos apenas que eles a possuem. Podemos vislumbrá-la em sua fisionomia, “única em seu gênero”: ou seja, distinta mesmo na ausência de termos de comparação.…
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(RMAP:228-230) Cada aspecto da vida (do “viver” no sentido intransitivo) não é necessariamente um aspecto da experiência vivida (Erleben, “viver” no sentido transitivo). A digestão, por exemplo, não é uma experiência vivida, desde que ocorra sem desconforto ou prazer. Toda a vida não é necessariamente vivida, todo o Leben não é necessariamente Erleben. Em certo…
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A Filosofia de Edmund Husserl Dr. Júlio Fragata Edições da Revista “Filosofia” Lisboa, 1961 1. — Husserl adquiriu, actualmente, um lugar de particular relevo entre os filósofos contemporâneos. Sobretudo dois factores podem contribuir para que um autor se mantenha numa posição de destaque: O influxo originado pelo seu impulso e o interesse pelo conteúdo intrínseco…
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Júlio Fragata S. I. Professor da Faculdade de Filosofia de Braga Problemas da Fenomenologia de Husserl Edições Livraria Cruz Braga 1962 I. — Durante os estudos secundários, efectuados em Olmutz, o talento de Husserl não despertou a atenção de ninguém. Era um aluno vulgar que gostava sobretudo da Matemática e das Ciências Naturais. Nestas predileções…
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Júlio Fragata S. I. Professor da Faculdade de Filosofia de Braga Problemas da Fenomenologia de Husserl Edições Livraria Cruz Braga 1962 I. — O desenvolvimento científico, originado no Renascimento, trouxe consigo, dum modo candente, o problema da coordenação e fundamentação das ciências que preocupou os filósofos mais eminentes da Filosofia Moderna, como Descartes, Leibniz e…
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Júlio Fragata S. I. Professor da Faculdade de Filosofia de Braga Problemas da Fenomenologia de Husserl Edições Livraria Cruz Braga 1962 1. — Um impulso de fundamentação radical foi sempre concebido por Husserl como empreendimento filosófico. E a Filosofia, no sentido estritamente husserliano, caracteriza-se por ser a «ciência dos princípios», por excelência. Husserl chegou mesmo…
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Júlio Fragata S. I. Professor da Faculdade de Filosofia de Braga Problemas da Fenomenologia de Husserl Edições Livraria Cruz Braga 1962 1. — Ao tratar do problema de Deus em Husserl, é conveniente, logo de início, afastar um possível equívoco, proveniente da confusão de duas questões distintas. A primeira refere-se à atitude de Husserl, como…
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Júlio Fragata S. I. Professor da Faculdade de Filosofia de Braga Problemas da Fenomenologia de Husserl Edições Livraria Cruz Braga 1962 1.— Posição do problema crítico — O problema crítico, relativo à objetividade do conhecimento humano, foi posto, com nitidez, a partir de Kant, mas surgiu através de uma evolução histórica, em que podemos distinguir…
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(Bornheim1976) I Posição do Problema O comportamento originante do filosofar e a possibilidade de esclarecer a problemática que tal comportamento coloca, constituem o objeto do presente estudo. Baseado na convicção de que não se trata de um problema que possa ser descartado como simplesmente secundário ou de menor importância, o autor parte, assim, do pressuposto…
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(Bornheim1976) II Análise da Admiração Ingênua Devemos analisar inicialmente o fenômeno da admiração tal como se verifica em sua manifestação primária, em seu primeiro desabrochar, ainda dentro de um horizonte de ingenuidade e espontaneidade, buscando-lhe as características mais fundamentais. Quais são estas características e como compreendê-las? A primeira é o sentido de abertura que a…
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(AGLP) De acordo com as Ideen I, o fenomenólogo atento às estruturas gerais da consciência pura não pode deixar de reconhecer que, além de seus atos, há nela um Eu (Ich) sem o qual esses atos seriam impossíveis, ao mesmo tempo em que esse Eu não é nada fora deles 1: «Eu puro e nada…
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(Montavont1999) Gostaríamos de mostrar que uma filosofia dos atos da consciência não é incompatível com uma fenomenologia da passividade 1, e [10] talvez ainda mais, que uma reflexão sobre a passividade só pode começar em uma filosofia que remete todo objeto constituído a uma consciência constituinte, ou seja, ao ato de uma instância subjetiva. A…
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Excertos de “Aprendendo a pensar”, Tomo I. Por muito repetir-se já se vulgarizou dizer que vivemos na era atômica. O que significa, porém, chamar uma época da história da humanidade de era atômica? À primeira vista exprime o domínio planetário da ciência. A energia do átomo, descoberta pela ciência e controlada pela técnica , constitui…
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Excertos de “Aprendendo a pensar”, Tomo I. A originalidade de nosso século está em haver deslocado o problema das relações entre história e verdade para o próprio diferir e referir da diferença e referência de temporal e intemporal, de relativo e necessário, de processo e validez, de ato e conteúdo. Assim a validez formal de…
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Excertos de “Aprendendo a pensar”, Tomo I. A pergunta decisiva agora é saber o que é ensinar e aprender. Ao ouvir a pergunta e sentir-lhe a necessidade, poderemos facilmente pensar que a resposta só pode ser dada pela ciência. Mas só poderemos pensar assim, se e enquanto em nosso empenho de perguntar e desempenho de…
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Excertos de “Aprendendo a pensar”, Tomo I. “Na Froehliche Wissenschaft, gaia ciência, diz Nietzsche que a filosofia vive nas geleiras das altas montanhas, tendo por única companhia o monte vizinho, onde mora o poeta. No país da ciência, a filosofia aparece como uma montanha solitária, envolta numa luz marginal. Por isso toda vez que ela…
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(RMAP:217-221) A empatia é um ato que capta um indivíduo como um outro eu. Em resumo, “vemos” os outros como nossos semelhantes. É necessário refletir sobre o significado desse “como”. Ao fazê-lo, responderemos à outra questão que levantamos: após a questão da relação entre a percepção psicológica e a percepção sensorial, a questão da relação…