Categoria: Fenomenologia (Hermenêutica)
Fenomenologia, Hermenêutica e Fenomenologia Hermenêutica
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Boss tinha ficado impressionado com a forma como Heidegger fala, na secção 26 (ET26) de Ser e Tempo, sobre a “preocupação antecipatória”, ao ponto de ver nela a descrição da relação terapêutica ideal, porque a sua própria teoria da transferência coincide exatamente com uma tal prática de libertação no quadro de uma análise que deve…
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(…) Heidegger retoma a distinção aristotélica entre techne, como um modo de desencobrimento que ilumina a produção de artefactos ou efeitos determinados, e phronesis, como um modo de desencobrimento que ilumina a conduta da vida. Por outras palavras, concorda com Aristóteles que a arte é um modo de descoberta adaptado à produção de obras ou…
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No entanto, parece-nos notável que tenha sido no contexto de uma interpretação da parábola platônica da caverna que, pouco depois de Sein und Zeit, tenham sido anunciados novos desenvolvimentos relativos à arte, mas também à política, no que diz respeito à theoria como visão do ser. Estamos a referir-nos à conferência do semestre de inverno…
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7- Quer seja política ou linguística, a criação no homem aparece como um caso particular dessa faculdade de começar que lhe é peculiar e cujo nome “comum” é a liberdade. Na continuidade indiferenciada da natureza (ou na da minha vida imediata, “estética”), não há um começo claro — ele surge apenas como o imperativo de…
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14- Na raiz do cristianismo está o pressentimento de que um irrelativo que seria pura e simplesmente oposto à relação se tornaria ele próprio um relativo; é o que o budismo reconhece explicitamente, deixando para trás a ordem estritamente religiosa, e fornecendo a contrapartida negativa do cristianismo. Um e outro, Deus e os seus fiéis,…
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5 — O imperativo, reduzido à sua raiz mais própria, resume-se, pois, à exigência de excluir ou suspender o possível. Não lamentes o que poderia ter sido, nem temas ou esperes o que poderia acontecer; não adies, perguntando-te se é possível, o que a Lei exige que se faça: logo que introduzo, entre o dever…
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6- O Ocidente (Abendland): não tanto uma cultura, mas a cultura comum para a qual todas as outras são traduzidas e apagadas no próprio ato da sua comunicação. O Ocidente como berço da ciência (Husserl), isto é, de um mundo comum a todos (incluindo os não ocidentais), um mundo de fatos positivos e de leis…
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«Wir bedenken das Wesen des Handelns noch lange nicht entschieden genug.» (“Ainda não pensamos suficientemente de forma decisiva sobre a essência da ação”, CartaH) Depois de compreendermos a palavra (entschieden), temos de prestar atenção ao facto de ser complementada por um advérbio, o que sugere que ainda não pensamos em agir de uma forma suficientemente…
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Não falamos de “feitos e gestos” de um cavalo. O ser humano está “em suas obras”: o seu comportamento é quase o seu jeito de ser. Não haverá uma expressão semelhante para designar a maneira como o ser humano se comporta em geral? “Conduta”, “comportamento” são termos demasiado restritos. “Desdobrar-se”, “desdobrar sua atividade”: é demasiado…
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Há uma outra modalidade de existência que implica feitos e gestos, mas estes não estão no centro desta modalidade de existência: é o conhecimento. Recordemos a distinção aristotélica entre θεωρία e πρᾶξις. Na Idade Média, transforma-se em contemplatio — actio. Contemplatio é de facto teoria, mas no sentido religioso, não no sentido do conhecimento. É…
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Embora saibamos que a etimologia da palavra agere indica que agir é “levar adiante”, devemos ter em conta o que temos em mente quando pensamos na ação humana. Muito mais rica, muito mais significativa. O agir, o verdadeiro agir, para nós nunca se esgota, de forma alguma, num só impulso (qualquer que seja a qualidade…
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O que aparece na mesa é, como diz Platão, a sua εἶδος (eidos)-mesa. Mas a σοφία (sophia) é uma modalidade de saber-fazer que conduz a algo muito mais aberto. Então como é que algo que em princípio é muito claramente poiético (poiesis) pode ter um lado praxético (praxis)? Esta é uma característica da condição humana.…
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En allemand : « die Mitte ». C’est le mot de Heidegger et de Hölderlin. Impossible de le rendre par le centre. Ce qui permet de différencier le Milieu du centre, c’est que le centre est inconcevable sans concentration — le centre est toujours, d’une manière ou d’une autre, « centre de gravité », point…
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(…) (Heidegger) chama “das Gestell” ao que está constantemente a trabalhar no coração da nossa técnica. Também neste caso, é muito mais importante compreender a indicação que motiva a escolha desta palavra, do que querer impor um termo num léxico suscetível de o traduzir. André Préau traduziu-a por “arraisonnement”, o que é uma excelente tradução,…
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(…) A analítica temporal da existência (Da-sein) humana, que Heidegger desenvolveu, penso eu, mostrou de maneira convincente que a compreensão não é um modo de ser, entre outros modos de comportamento do sujeito, mas o modo de ser da própria pré-sença (Dasein). O conceito “hermenêutica” foi empregado, aqui, nesse sentido. Ele designa a mobilidade fundamental…
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Primeiro, pode-se naturalmente associar a compreensão a um processo epistemológico ou cognitivo. Compreender (verstehen) é, em geral, apreender algo (“eu entendo”), ver as coisas com mais clareza (digamos, quando uma passagem obscura ou ambígua se torna clara), ser capaz de integrar um significado particular em um quadro maior. Essa noção básica de compreensão era certamente…
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(…) meu livro (Verdade e Método) está postado metodicamente sobre um solo fenomenológico. Pode até soar como um paradoxo, quando por outro lado, justamente a crítica de Heidegger ao questionamento transcendental e seu pensamento da “virada” (Kehre) serve de fundamento ao desenvolvimento do problema hermenêutico universal, que eu empreendo. Eu porém acho que o princípio…
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(Rorty1999) Heidegger e Derrida são frequentemente referidos como filósofos «pós-modernos». Utilizei por vezes o termo «pós-moderno» no seu sentido mais estrito definido por Lyotard como «desconfiança das metanarrativas». Mas agora preferiría não o ter feito. O termo tem sido tão utilizado que causa mais problemas que o necessário. Desisti da tentativa de encontrar algo em…
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C) O carácter essencialmente cênico das formas a priori da intuição como chaves operativas de uma matemática da natureza, Heidegger explica na sua própria linguagem, de forma muito esclarecedora, em GA12. O seu argumento assume a forma de uma crítica à “redução” do tempo e do espaço, nas ciências, à função paramétrica. Heidegger escreve “Para…
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Abandon des études de théologie et rencontre avec la philosophie. Rencontre avec malentendus car procède par parricides successifs : Rickert d’abord. Chef de file d’une des branches du néokantisme (retour à Kant). // Retour aux choses même d’Husserl. Deux visages différents du néokantisme peuvent être distingués à l’époque : -néokantisme de Marbourg (Cohen) : lie…