Categoria: Fenomenologia (Hermenêutica)
Fenomenologia, Hermenêutica e Fenomenologia Hermenêutica
-
A Carta sobre o Humanismo de 1946, cujas conotações políticas são bem conhecidas, caracteriza o projeto ontológico fundamental de Heidegger nesses termos, fiel ao que Nietzsche já havia chamado de “a concepção estrita do solo natal”: Essa proximidade com o Ser, que é em si o “aí” do ser-aí (Dasein), o discurso sobre a elegia…
-
Basta começar o prólogo de {A condição humana} para se encontrar diretamente na estrutura do pensamento heideggeriano e ver a oposição fundamental entre a Terra e o Céu, entre o Divino e o Mortal, onde a moradia dos homens e a instituição da cidade se enraízam. Nas palavras de Heidegger: A condição humana reside na…
-
Hannah Arendt faz pouco uso do termo “divino”, referindo-se sobretudo ao deus cristão no parágrafo seguinte para enfatizar sua retirada. No entanto, “os sinais das divinos”, que para Heidegger tornam manifesta “a divindade”, permanecem presentes em toda a obra na forma da exigência do sentido. Assim, eles nos orientam em direção ao que deve ser…
-
Voltemos à condição humana, vista aqui na forma da vita activa e não da vita contemplativa, sob o ângulo da praxis e não da theoria. Ao longo de seu texto, Hannah Arendt desenvolve a intuição do prólogo, que prevê o mundo a partir da figura inicial da quadripartite (Geviert), e rejeita a interpretação mistificadora do…
-
A fórmula de Heráclito deve ser entendida em um sentido completamente diferente. Em primeiro lugar, ela diz que o λόγος se manifesta como unificação porque expressa a presença reunida. Esse Um da presença, nós o chamamos, na introdução, de mundo, a unidade sempre nova e viva das categorias, a abertura de todas as relações que…
-
(…) era necessário, em primeiro lugar, buscar um conceito suficiente da existência humana que nos permitisse perguntar qual é sua relação com Deus. Na perspectiva da Carta sobre o Humanismo, o homem habita, na medida em que é homem, na proximidade de Deus (GA9:CartaH). A relação se abre imediatamente no Dasein porque Da é a…
-
A análise etimológica de Albert Hofstadter da palavra Ereignis mostra o seguinte. Primeiro, Ereignis contém o sentido do verbo eignen, tornar algo próprio. Portanto, Ereignis se refere à apropriação mútua dos elementos do mundo. Em segundo lugar, Ereignis também se origina de uma forma verbal antiga, eräugnen, colocar diante dos olhos (Augen), mostrar. O professor…
-
A noção de que o mundo é constituído pelo espelhamento mútuo de seus elementos é uma reminiscência da noção de Leibniz de que cada mônada reflete o mundo a partir de seu próprio ponto de vista. Já em 1926, Heidegger criticou a descrição de Leibniz das mônadas como “sem janelas”. Elas não podem ser sem…
-
Para desenvolver uma alternativa à compreensão atual do Ser, Heidegger recorre à frase de Angelus Silesius: A rosa não tem um porquê; floresce porque floresce; Não se preocupa consigo mesma, não pergunta se é vista. (GA10:SG, 68) A rosa, como outros entes naturais, não oferece nenhuma razão para seu Ser; floresce porque floresce, assim como…
-
Ao tentar explicar Ereignis, Heidegger tenta o impossível. Como Ereignis “não é”, não podemos falar sobre ele de forma proposicional. O próprio Heidegger diz que “tudo — afirmações, perguntas e respostas — pressupõe a experiência da própria matéria” (GA14:ZS, 27/25-26). O legein mortal deve reunir e abrigar o Logos cósmico. Em seu ensaio de 1936,…
-
Em seu ensaio “Caminho da Linguagem” (1959, GA12), Heidegger interpreta a palavra Dizer da mesma forma que interpreta a palavra Logos — como uma palavra cosmológica. Dizer não é, de forma alguma, a expressão linguística adicionada aos fenômenos depois que eles aparecem — em vez disso, toda a aparência radiante e todo o desaparecimento estão…
-
Dessa forma, ao clareá-los, o Ser deixa os entes à deriva na errância. Os entes passam a existir nessa errância pela qual eles contornam o Ser e estabelecem o reino do erro (no sentido do reino de um príncipe ou do reino da poesia). O erro é o espaço no qual a história se desenvolve.…
-
(…) Pensar a finitude de uma coisa é pensá-la como limitada, mas para Heidegger essa limitação deve ser pensada positivamente. Pensar o finito é pensar a limitação de uma coisa como a superfície de sua exposição ao mundo além dela. O limite de uma coisa é sua interface com o que está além dela. Mas…
-
(…) ao falar de um “meio”, estamos falando de algo que estaria entre dois polos fixos. Para começar, as coisas em questão não são tão fixas ou autocontidas. O que aparece neste mundo o faz em conjunto com tudo ao seu redor. Não há nada que não exista dessa forma relacional. Aparecer é estar exposto…
-
A metafísica toma as coisas (o que quer que seja real, o que quer que “tenha ser”) como seu objeto material e, em seguida, pergunta sobre o que faz com que elas sejam reais. Na leitura tradicional da metafísica de Aristóteles (e aqui eu me concentro em seu momento ontológico e me abstenho de seu…
-
Também decidi traduzir Dasein (que geralmente é hifenizado nas Contribuições) como “ser-aí”. Desde a publicação da versão de Macquarrie e Robinson de Sein und Zeit em 1962, a maioria dos estudiosos anglófonos de Heidegger deixou Dasein sem tradução (com a notável exceção de William J. Richardson, que usa “There-being” em seu Heidegger: Through Phenomenology to…
-
Quando a cotidianidade se rompe em uma emergência, emerge a dação do familiar. Porém, essa dação não aparece como algo novo; ela é revelada como se já estivesse em vigor. Reconhecemos que, mesmo quando estávamos vivendo dentro do todo, o todo estava aí — estava simplesmente em segundo plano. Nossa experiência é como uma lembrança:…
-
Mas existe algum conteúdo específico para o previamente dado? Agora que ele foi revelado como tal, ele tem algum padrão duradouro que possamos descrever? Por exemplo, todos os entes são dados em termos de uma estrutura de atributos de substância? Precisamos de uma distinção entre essência e existência? Com essas perguntas (que não podem ser…
-
Heidegger usa a palavra beingness (esseralidade) para se referir a esses padrões da dação dos entes conforme são descritos pela metafísica tradicional. A metafísica pressupõe que descrever os padrões é encontrar as características mais universais daquilo que é. Heidegger tem quatro críticas a essa abordagem. 1. A metafísica pressupõe que os entes nos são dados…
-
Anteriormente, apresentei o problema da dação em termos dos seguintes momentos. ( a ) Começamos lidando com entes familiares, enquanto tomamos os entes como tais e como um todo como garantidos, ( b ) Em uma emergência ( Not ), uma ruptura nessa familiaridade, percebemos que os entes são dados como tais e como um…