Caron (2005:781) – ser-sempre-meu [Jemeinigkeit] denega a subjetividade

tradução

O que é, pois, fundamental neste ser-sempre-meu (Jemeinigkeit) é o modo como ele próprio é possível, bem como o polo de onde provém; Heidegger mostra-nos que um ser que é para si mesmo, que é/está em relação a si, não pode de modo algum ser um simples ente. Ter o ser-sempre-meu como característica essencial é desdobrar-se de um modo irredutível a uma simples roupagem ôntica. Ora, o sujeito tradicional é pensado como uma res, no modo de um ente. Assim, o Dasein não é um sujeito. Longe de constituir um retorno à subjetividade, o ser-sempre-meu é, pelo contrário, o que definitivamente e em si mesmo o afasta. Através do ser-sempre-meu corretamente posto, somos assim conduzidos ao exato oposto da subjetividade para a qual inicialmente pensávamos estar a ser conduzidos por ele. É precisamente porque há, no Dasein, um Jemeinigkeit, um ser-sempre-meu, um ser-seu, um Seine, que há paralela e fundamentalmente um Sein, e, em última análise, devido a essa mesma relação instituída pela presença do Sein, que não há sujeito senão um derivado. O Dasein é relação antes de poder aparecer como um eu, é ser-sempre-meu antes de ser visível como um sujeito, um si mesmo antes de aparecer como um eu, e esta ipseidade é uma realidade não consciente cuja forma nada tem a ver com o que conhecemos, uma realidade transpessoal que, no entanto, constitui a própria essência da pessoa, uma realidade propriamente ontológica na qual a subjetividade se mantém mas que não tem nada de subjetivo, uma realidade cuja estranheza devemos tentar habitar se quisermos nos conhecer verdadeiramente, ela que não é nada de conhecido e que sempre nos precedeu.

Original

CARON, Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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